Image
Crítica

Leland Whitty

: "Anyhow"

Ano: 2022

Selo: Innovative Leisure

Gênero: Jazz

Para quem gosta de: BADBADNOTGOOD

Ouça: Glass Moon e Awake

7.6
7.6

Leland Whitty: “Anyhow”

Ano: 2022

Selo: Innovative Leisure

Gênero: Jazz

Para quem gosta de: BADBADNOTGOOD

Ouça: Glass Moon e Awake

/ Por: Cleber Facchi 11/01/2023

Integrado oficialmente como membro do BADBADNOTGOOD desde 2016, Leland Whitty talvez seja o principal responsável pela transformação vivida pelo grupo canadense nos últimos anos. Partindo de uma criativa combinação de referências, o compositor e multi-instrumentista costuma apontar para o passado, porém, de forma sempre atualizada e autoral, direcionamento que se reflete nas recentes empreitadas com os parceiros de banda, vide o material entregue no bem recebido Talk Memory (2021), mas que ganha novo tratamento em Anyhow (2022, Innovative Leisure) primeiro trabalho do artista em carreira solo.

Declaradamente inspirado pela obra de veteranos como John Coltrane, Jonny Greenwood e Arthur Verocai, o trabalho de sete faixas se distancia de possíveis excessos e momentos de maior urgência para destacar a delicadeza dos elementos. A própria composição de abertura do disco, Svalbard, funciona como uma boa representação desse resultado. Inaugurada em meio a camadas de sintetizadores e violões que flertam com a bossa nova, Whitty faz de cada mínimo fragmento um componente de destaque. São sobreposições sutis que parecem pensadas para envolver e confortar o ouvinte, estímulo para parte expressiva do registro.

Com parte das regras e preferências estéticas apresentadas logo nos minutos iniciais, Glass Moon, vinda logo em sequência, amplia consideravelmente os limites do trabalho. Enquanto a porção inicial segue de onde o artista havia parado na canção anterior, pequenos acréscimos, como a bateria de Lowell Whitty e o contrabaixo de Julian Anderson Bowes, tornam tudo ainda mais interessante. É como um regresso ao som produzido pelo próprio BADBADNOTGOOD no álbum IV (2016), porém, partindo de uma abordagem ainda mais sensível e detalhista, indicativo do que há de mais característico no material entregue pelo músico.

Entretanto, isso é apenas um preparativo para o que se revela por completo na dobradinha formada por Awake e Windows. Enquanto a primeira vai de encontro ao mesmo território criativo de Verocai, com sua percussão versátil e bases psicodélicas, a composição seguinte destaca o domínio técnico e evidente controle criativo do músico durante toda a execução do material. Da construção dos arranjos, sempre minuciosos, passando pelos sintetizadores e guitarras ocasionais, cada fragmento da canção surpreende pelo refinamento do instrumentista, estrutura que se completa pelo saxofone imprevisível de Whitty.

Passado esse momento de maior euforia, Silver Rain abre passagem para o que há de mais lisérgico no som produzido pelo artista. Acompanhado pela percussão de Chester Hansen e o baixo de Alexander Sowinski, ambos parceiros de banda no BADBADNOTGOOD, Whitty brinca com a sobreposição dos arranjos e uso de efeitos que garantem novo tratamento à obra. Uma delirante combinação de elementos, estrutura que segue até a canção seguinte, In Circles, música que convence pelo evidente cuidado do instrumentista, porém, pouco acrescenta quando próxima de outras composições apresentadas ao longo do trabalho.

Escolhida para o encerramento do registro, Anyhow, música que concede título à obra, utiliza de uma abordagem também contida, porém, marcada pelo refinamento estético de Whitty. É como uma jornada instrumental. Exatos sete minutos em que o artista explorada cada elemento individualmente. Da linha de baixo Bowes, passando pela base atmosférica ao sempre melancólico sopro do saxofone. Um lento desvendar de sensações, estrutura que se conecta aos minutos iniciais do trabalho, vide a sutileza expressa em Svalbard, mas que encanta pelos acréscimos e incontáveis camadas detalhadas pelo compositor.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.