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Crítica

Loraine James

: "Building Something Beautiful For Me"

Ano: 2022

Selo: Phantom Limp

Gênero: Eletrônica, Música Ambiente

Para quem gosta de: Tirzah e Space Afrika

Ouça: Choose to Be Gay (Femenine) e Enfield, Always

7.5
7.5

Loraine James: “Building Something Beautiful For Me”

Ano: 2022

Selo: Phantom Limp

Gênero: Eletrônica, Música Ambiente

Para quem gosta de: Tirzah e Space Afrika

Ouça: Choose to Be Gay (Femenine) e Enfield, Always

/ Por: Cleber Facchi 10/01/2023

Com o lançamento do primeiro trabalho como Whatever The Weather, a produtora inglesa Loraine James encontrou no uso da própria voz um precioso componente criativo. Não por acaso, poucos meses após a entrega do registro, a artista londrina decidiu explorar esse mesmo elemento de forma ainda mais explícita, mergulhando na construção de faixas marcadas por conflitos sentimentais e experiências intimistas. É partindo desse contexto que somos apresentados a Building Something Beautiful For Me (2022, Phantom Limp), material que destaca o que há de mais delicado, mas não menos inventivo na obra da britânica.

Tendo como ponto de partida a obra do compositor nova-iorquino Julius Eastman (1940 – 1990), pioneiro da produção minimalista que inovou ao incorporar elementos de música pop e jazz, James utiliza de pequenas releituras, recortes e adaptações para tratar dos próprios sentimentos. Da mesma forma que Eastman, um instrumentista negro e declaradamente homossexual, a artista inglesa transita em meio a temas raciais e reflexões sobre a própria sexualidade, conceito reforçado em Choose to Be Gay (Femenine). São pouco mais de sete minutos em que a produtora utiliza de pequenas ambientações para detalhar a construção dos versos, sempre centrados nas próprias vivências e momentos de maior vulnerabilidade.

A própria música de abertura do trabalho, Maybe If I (Stay On It), com suas batidas submersas e vozes calculadas, sintetiza parte das angústias e temas explorados pela artista ao longo da obra. “Talvez se eu ficar, você não vai gostar disso / Talvez se eu ficar, não falaremos assim / Fale assim“, canta James em uma abordagem que muito se assemelha ao material entregue por Tirzah em Colourgrade (2021). São inserções minimalistas, por vezes discretas, proposta que naturalmente segue de onde a produtora parou durante a estreia como Whatever The Weather, porém, utilizando da fragmentação e costura irregular dos elementos.

Esse mesmo direcionamento criativo acaba se refletindo em toda a primeira metade do disco. São canções que ganham forma em uma medida própria de tempo, sem pressa, lembrando a série de lançamentos recentes envolvendo a obra de Eastman. É como se James a todo momento rompesse com a parcial urgência que marca os antigos registros em carreira solo, entre eles, Reflection (2021). Entretanto, a partir do momento em que somos apresentados a Enfield, Always, quinta faixa do álbum, a artista não apenas se afasta do restante do trabalho, como abre passagem para um novo e sempre imprevisível território criativo.

A partir desse ponto, tudo se modifica, as batidas crescem e os sintetizadores, antes econômicos e restritos, ganham maior fluidez e destaque. Mesmo quando tende aos momentos de maior calmaria, a produtora invariavelmente utiliza de pequenas corrupções estéticas que garantem novo sentido ao material. Exemplo disso acontece em Black Excellence (Stay on It), música que parte da mesma fonte criativa da canção de abertura, porém, de forma urgente. A própria composição de encerramento, What Now (Prelude to the Holy Presence of Joan D’arc), mesmo marcada pelo caráter atmosférico, utiliza de pequenas oscilações.

São justamente essa pequenas rupturas e variações presentes durante toda a execução do material que fazem de Building Something Beautiful For Me um registro tão atrativo. Claro que isso está longe de parecer uma novidade para quem há tempos acompanha o trabalho da produtora britânica. Desde o início da carreira, James tem feito dessa pequenas variações um estímulo natural para o fortalecimento da própria obra. A diferença está na forma como a artista, por meio das vozes e sentimentos expressos dentro de cada canção, utiliza desses elementos para dialogar com o ouvinte e, pela primeira vez, se revelar por completo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.