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Crítica

Mac DeMarco

: "Five Easy Hot Dogs"

Ano: 2023

Selo: Mac's Record Label

Gênero: Rock

Para quem gosta de: King Krule e Alex G

Ouça: Portland e Gualala

6.5
6.5

Mac DeMarco: “Five Easy Hot Dogs”

Ano: 2023

Selo: Mac's Record Label

Gênero: Rock

Para quem gosta de: King Krule e Alex G

Ouça: Portland e Gualala

/ Por: Cleber Facchi 25/01/2023

Desde o início da carreira, Mac DeMarco sempre estabeleceu pequenos respiros instrumentais dentro dos próprios trabalhos. Está na curva breve de Boe Zaah, música que aparece nos minutos finais de 2 (2012), ou mesmo na psicodélica Jonny’s Odyssey, composição que pontua Salad Days (2014) com excelência. Entretanto, ao mergulhar no processo de criação de Five Easy Hot Dogs (2023, Mac’s Record Label), quinto e mais recente trabalho de estúdio, o cantor, compositor e multi-instrumentista canadense decidiu estreitar de vez essa relação, destacando a construção dos arranjos e rompendo em definitivo com o uso dos vocais.

Segundo o artista, Five Easy Hot Dogs é um passatempo. Um exercício criativo gravado em diferentes locações enquanto excursionava entre a região de Los Angeles e Utah. Dessa forma, não é de se esperar que estamos de posse de uma obra totalmente despretensiosa, como uma fuga temporária entre uma parada e outra. Ainda assim, bons momentos podem ser percebidos durante toda a execução do material. É como uma extensão natural de tudo aquilo que o músico canadense tem explorado em sua fase mais recente, vide o repertório entregue nos atmosféricos This Old Dog (2017) e Here Comes the Cowboy (2019).

Quarta composição do disco, Portland funciona como uma boa representação de tudo aquilo que o artista busca desenvolver ao longo do álbum. Concebida a partir de uma base cíclica de guitarras, bateria orgânica e sintetizadores, a faixa aos poucos se transforma em um labirinto instrumental que destaca o uso de efeitos e pequenos acréscimos percussivos. Instantes em que o músico canadense vai de encontro aos últimos registros autorais, porém, utilizando de pequenas experimentações que confessam algumas de suas principais referências criativas, principalmente obra dos japoneses Shigeo Sekito e Haruomi Hosono.

São justamente esses eventuais acenos para o passado que distanciam o material entregue em Five Easy Hot Dogs de um resultado tedioso. Com Gualala como faixa de abertura, o músico estabelece um colorido cruzamento de informações que vai do jazz ao rock psicodélico em uma abordagem sempre detalhista, proposta que se reflete durante toda a execução do trabalho. Difícil ouvir Portland 2, por exemplo, e não lembrar de Arthur Verocai. Surgem ainda ecos de Steely Dan, Harry Nilsson e outros nomes importantes da década de 1970, como uma soma do que há de mais característico na obra do compositor canadense.

Ainda assim, Five Easy Hot Dogs em nenhum momento ultrapassa o que parece ser um limite bem definido pelo instrumentista. Como indicado logo nos minutos iniciais do trabalho, tudo se resolve a partir de uma combinação de guitarras e sintetizadores ocasionais que ganham forma em meio a batidas sempre calculadas. Canções que se apresentam ao público em uma medida própria de tempo, como uma fuga da euforia e detalhismo impresso em algumas de suas criações mais conhecidas, como Freaking Out the Neighborhood e Chamber of Reflection, essa última, alavancada por conta do recente sucesso no TikTok.

Primeiro trabalho de inéditas produzido por Mac DeMarco em quatro anos, Five Easy Hot Dogs soa como um recomeço preguiçoso, ainda que envolvente quando próximo do material entregue no arrastado Here Comes the Cowboy. A exemplo de outros registros do gênero, como The Rescue (2005), obra inspirada pelo período em que os membros do Explosions in the Sky passaram na estrada após um problema na van que transportava a banda, o presente álbum do parte de uma abordagem conceitual, porém, aos poucos ganha novas tonalidades e serve de passagem para um território próprio do compositor canadense.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.