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Crítica

Macaco Bong

: "Mondo Verbero"

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: Rock Psicodélico, Jazz, Instrumental

Para quem gosta de: Hurtmold e Constantina

Ouça: Tonto, Cho e Hacker do Sol

8.0
8.0

Macaco Bong: “Mondo Verbero”

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: Rock Psicodélico, Jazz, Instrumental

Para quem gosta de: Hurtmold e Constantina

Ouça: Tonto, Cho e Hacker do Sol

/ Por: Cleber Facchi 24/11/2021

Mondo Verbero (2021, Independente), como tudo aquilo que a Macaco Bong tem produzido desde o início da carreira, nasce como uma colorida combinação de ritmos, quebras e formas instrumentais. E isso fica bastante evidente na introdutória Cho. São pouco menos de oito minutos em que a guitarra macia de Bruno Kayapy ganha forma em meio a sobreposições hipnóticas, ambientando o ouvinte ao território que se completa pelo baixo suculento de Hygor Carvalho e a bateria de Éder Noleto. É como se o trio flutuasse em meio a ambientações psicodélicas e formas jazzísticas, proposta que naturalmente evoca estrangeiros como Tortoise e Mogwai, mas que em nenhum momento oculta a fina identidade da banda de Cuiabá.

E isso fica ainda mais evidente na composição seguinte, a já conhecida Kãeãe. Do título extraído de uma gíria cuiabana, passando pelo desenho torto das guitarras que vão do rasqueado à polca paraguaia, cada fragmento da canção resgata a essência plural do introdutório Artista Igual Pedreiro (2008). Essa mesma versatilidade acaba se refletindo em Hacker do Sol. Inaugurada em meio a sintetizadores atmosféricos, a faixa rapidamente desemboca em um baião que não apenas potencializa os arranjos de Kayapy, como destaca a bateria imprevisível de Noleto. Um ziguezaguear de ideias, ritmos e diferentes informações que ganha novos contornos minutos à frente, em Treze, um forró eletrizante que convida o ouvinte a dançar.

Com a chegada de Reverbo, quinta composição do disco, a passagem para um território totalmente aberto às possibilidades. Enquanto os minutos iniciais parecem apontar para a trilha sonora de um filme de faroeste, próxima ao fechamento, a canção ganha forma em meio a efeitos e captações arrastadas que tendem ao dub. O resultado desse processo está em uma delirante combinação de elementos que ganha ainda mais destaque na faixa seguinte, American Junkie Pop. Pouco menos de sete minutos em que o trio vai de uma base atmosférica para mergulhar em um ambiente marcado pelas ondulações das guitarras, como uma extensão natural do caminho indicado logo nos primeiros minutos do disco, na já citada Cho.

Nada que se compare ao material entregue em Tonto. Marcada pela repetição dos elementos, a música parte de uma base árida para mergulhar em ambiente de essência psicodélica, proposta que muito se assemelha ao material entregue pelo Queens of The Stone Age no fechamento de Rated R (2000), em I Think I Lost My Headache. A diferença está no forte caráter orgânico da canção, como se cada instrumento assumisse uma função específica, indicativo do completo domínio do trio durante toda a execução do trabalho. Curioso pensar que todo esse processo de criação tenha se dado de maneira remota, com ensaios e gravações concebidas de forma virtual. “Foi um álbum criado por Zoom e WhatsApp”, comentou Kayapy.

Perfeita representação desse minucioso processo de composição fica bastante evidente em Cactus. Faixa mais delicada do disco, a canção encanta pelo dedilhado nada econômico de Kayapy, estrutura que se completa pela bateria de Noleto e baixo denso de Carvalho. É como se o trio partisse da mesma atmosfera empoeirada de Reverbo e American Junkie Pop, porém, utilizando de um novo direcionamento criativo. São melodias e sobreposições acolhedoras, como um respiro que antecede o completo experimentalismo da pulsante Caminhada Sagaz, uma das criações mais complexas e imprevisíveis de Mondo Verbero.

Não por acaso, passada a turbulência explícita em Caminhada Sagaz, D’bong na Lagoa, composição de encerramento do disco, garante ao trabalho um fechamento deliciosamente descompromissado. São diálogos com o reggae, mas que em nenhum momento ocultam o caráter inventivo da banda cuiabana, conceito que vai do desenho torto das guitarras à base ruidosa que corre ao fundo da canção. Ideias e atravessamentos rítmicos que dialogam de forma bastante significativa com a própria imagem de capa do disco, com suas texturas, cores e formas psicodélicas que parecem orientar a experiência do ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.