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Ano: 2023

Selo: Das Duas

Gênero: Indie Pop, MPB

Para quem gosta de: Julia Mestre e Nina Becker

Ouça: Papais, Ostra e O Tempo

7.6
7.6

Maria Luiza Jobim: “Azul”

Ano: 2023

Selo: Das Duas

Gênero: Indie Pop, MPB

Para quem gosta de: Julia Mestre e Nina Becker

Ouça: Papais, Ostra e O Tempo

/ Por: Cleber Facchi 03/07/2023

Obra de sentimentos contrastantes, Azul (2023, Das Duas) nasce como um produto das experiências mais recentes vividas pela cantora e compositora carioca Maria Luiza Jobim. Sequência ao material entregue em Casa Branca (2019), o trabalho passeia em meio a momentos de maior vulnerabilidade emocional e composições ensolaradas. É como uma representação poética e instrumental das diferentes interpretações que a cor que dá nome ao disco costuma ter, indo da tonalidade radiante aplicada pelo português ao fino toque de melancolia que a simples tradução para a língua inglesa – “blue” –, concede à mesma palavra.

E isso não se dá por acaso. Durante o processo de criação do trabalho, a filha caçula de Tom Jobim teve de se despedir do irmão, Paulo Jobim (1950 – 2022), que faleceu em decorrência de um câncer. Dessa forma, o céu azul do Rio de Janeiro, onde busca inspiração desde o registro anterior, se misturou com o período sombrio vivido pela própria artista. O resultado desse processo está na entrega de uma obra que transita com naturalidade por entre estilos, diferentes propostas criativas e sensações, direcionamento que rompe com o teor nostálgico do repertório de Casa Branca para dialogar de maneira delicada com o presente.

Composição de abertura do disco, O Tempo sintetiza de forma bastante representativa essa combinação de sentimentos que embala a experiência do ouvinte durante toda a execução do trabalho. Enquanto os versos funcionam como um passeio pela mente da artista, arranjos cuidadosamente orquestrados pela produção de Alberto Continentino parecem pensados para envolver cada mínimo fragmento poético soprado por Jobim. É como um lento desvendar de sensações, conceito que parte do material entregue no álbum anterior, mas que ganha ainda mais destaque no repertório montado dentro do presente registro.

Dentro desse espaço marcado pela força das emoções, cada composição se transforma em um objeto precioso. São faixas que passeiam em meio a paisagens descritivas, confessam sentimentos e detalham encontros e desencontros com diferentes indivíduos. Já conhecida do público, Boca de Açaí funciona como uma boa representação desse resultado. “E sem querer / Dobro tua esquina / Um sopro / Um susto / Um paraíso“, canta em meio ao som de ondas, arranjos e entalhes percussivos que se revelam em pequenas doses, sem pressa. Criações talvez escapistas em excesso, porém, difíceis de serem ignoradas pelo ouvinte.

Embora sirva de passagem para um universo particular da artista carioca, Azul estabelece nos diálogos com diferentes colaboradores um importante componente de transformação quando próximo do material entregue em Casa Branca. Em O Culpado É O Cupido, é a voz contrastante de Arnaldo Antunes que orienta parte dos versos. Na derradeira Nada Sou Sou, com letra cantada em japonês, é Lisa Ono, paulistana naturalizada japonesa, que complementa as vozes de Jobim. Nada que se compare ao material apresentado em Papais, delicada criação composta e interpretada em parceria com a cantora Adriana Calcanhotto.

Completo pela participação de Lucas Vasconcellos, com quem Jobim assina parte das composições, além de contar com nomes como Dadi Carvalho, Azul segue de onde a artista parou há quatro anos, porém, de forma ainda mais aprofundada e musicalmente colorida em relação ao som reducionista que marca o repertório de Casa Branca. Claro que essa pluralidade de ideias e busca por novas direções criativas vez ou outra estabelece momentos de maior instabilidade e faixas intercaladas por sentimentos conflitantes, proposta que bagunça, mas em nenhum momento diminui a sensibilidade e forte carga emocional da obra.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.