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Crítica

Marina Sena

: "Vício Inerente"

Ano: 2023

Selo: Sony Music

Gênero: Pop, R&B

Para quem gosta de: Duda Beat e Jean Tassy

Ouça: Tudo Pra Amar Você e Pra Ficar Comigo

7.3
7.3

Marina Sena: “Vício Inerente”

Ano: 2023

Selo: Sony Music

Gênero: Pop, R&B

Para quem gosta de: Duda Beat e Jean Tassy

Ouça: Tudo Pra Amar Você e Pra Ficar Comigo

/ Por: Cleber Facchi 04/05/2023

Vício Inerente (2023, Sony Music), segundo e mais recente trabalho de estúdio de Marina Sena, é um disco que seduz aos poucos, sem pressa. Livre da urgência que marca o introdutório De Primeira (2021), registro alavancado pelo sucesso de Por Supuesto no TikTok, o álbum que conta com produção assinada Iuri Rio Branco, parceiro desde o lançamento anterior, desacelera para potencializar os sentimentos e desejos mais profundos da cantora e compositora mineira. São canções que partem de provocações compartilhadas em momentos de intimidade para confessar algumas das principais fantasias da artista e do próprio ouvinte.

Sempre que quiser ficar comigo é só beijar meu pescoço“, provoca na introdutória Dano Sarrada, faixa que sintetiza parte dos temas e estruturas incorporadas por Sena e o parceiro de produção ao longo da obra. Essa mesma abordagem cadenciada fica ainda mais evidente na composição seguinte, Olho no Gato, música que se espalha em meio a sintetizadores e batidas cíclicas, proposta que talvez afaste o ouvinte mais apressado, porém, convence a cada nova audição. “Me olhou, tá sabendo / Veneno é lento, é sem sofrimento / Melhor do momento que é pra ter tempo / De sair correndo até eu te pegar“, canta em um reforço à ausência de pressa, como uma preliminar que antecede a explosão em Tudo Pra Amar Você.

Já conhecida do público, a canção talvez seja a que mais se aproxima do repertório apresentado em De Primeira, esbarrando no mesmo reggaeton romântico de nomes como Bad Bunny. “Revirei minha vida pra caber na sua trama / Tudo pra amar você“, confessa. Vem dessa colorida mistura de ritmos e olhar para a música latina o estímulo para a composição seguinte, Tudo Seu, música que pontua a porção inicial do disco. Não por acaso, Mande Um Sinal, vinda logo em sequência, transporta o registro para um novo território, destacando o uso das vozes que vão de encontro ao soul e doce melancolia expressa nos versos.

Pena que nem todas as canções partilham do mesmo refinamento. É o caso de Me Ganhar, música de base esquelética e letra que pouco avança quando próxima de outras criações que integram a primeira metade do trabalho. Outra que passa despercebida é Que Tal, parceria com Fleezus, importante nome do brime, mas que soa como uma reciclagem daquilo que o próprio Iuri Rio Branco havia orquestrado em Hoje À Noite, uma das principais músicas de Amanhã (2021), estreia de de Jean Tassy, que também contou a presença do rapper paulistano. Nada que o material vindo logo em sequência não dê conta de solucionar.

Passada a apresentação da atmosférica Meu Paraíso Sou Eu, música que soa como um interlúdio, Partiu Capoeira traz o disco de volta aos eixos. Com um pé no reggae, a canção destaca a capacidade de Sena em investir na construção de composições que grudam na cabeça do ouvinte logo em uma primeira audição. “Aprendi que o mundo gira e girou pra você“, avisa. Minutos à frente, em Mais de Mil, um regresso aos temas libidinosos que inauguram o disco, estrutura que se destaca pelo uso fragmentado das batidas e vozes sempre carregadas de efeitos. “Poder me olhar e saber / Que vai me lamber dos pés à cabeça“, atiça.

Esse mesmo lirismo provocativo segue até a faixa seguinte, Sonho Bom, criação que pouco acrescenta musicalmente, porém, sustenta nos versos o caráter provocativo da cantora. “E eu chego, pouca roupa / Muita pele, você não aguenta“, canta. É como um último toque de lascívia antes da completa ruptura em Pra Ficar Comigo, composição que destaca o uso das batidas eletrônicas, cresce substancialmente e ainda transporta o som do registro para um cenário totalmente inesperado. Um misto de euforia e fino toque de libertação que garante novo fôlego ao repertório da artista, abre caminho para o futuro e, mais uma vez, reforça o quanto as conquistas e o trabalho de Sena está longe de parecer mera sorte de principiante.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.