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Crítica

Miya Folick

: "Roach"

Ano: 2023

Selo: Nettwerk

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Julia Jacklin e Soccer Mommy

Ouça: Bad Thing, So Clear e Nothing To See

7.7
7.7

Miya Folick: “Roach”

Ano: 2023

Selo: Nettwerk

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Julia Jacklin e Soccer Mommy

Ouça: Bad Thing, So Clear e Nothing To See

/ Por: Cleber Facchi 05/06/2023

A vulnerabilidade emocional e forte aspecto expositivo dado aos versos são alguns dos principais traços do trabalho de Miya Folick em Roach (2023, Nettwek). “Eu sei que você tem conversado com garotas na internet / Ela tem apenas dezenove anos e eu não posso competir com isso“, confessa na delicada Bad Thing, música que não apenas sintetiza parte dos conflitos, dores e tormentos que abastecem o registro, como reforça o lirismo contemplativo que se faz presente e cresce durante toda a execução do disco. “Por que eu fiz isso? / Nada mudou, só estou triste e com dor“, reflete minutos à frente, na mesma composição.

E essas perguntas, muitas delas sem respostas, estão presentes desde a abertura do trabalho, em Oh God. “Oh Deus / Eu preciso de Deus? / Quem é Deus?“, questiona. É como um convite a se perder pela mente da cantora e compositora californiana que há cinco anos deu vida ao primeiro álbum de estúdio, Premonitions (2018), e sempre estabeleceu nas próprias inquietações um importante componente de diálogo com o ouvinte. A diferença está na forma como Folick utiliza de uma abordagem ainda mais crua, rompendo com possíveis curvas metafóricas para investir em versos marcados pela força avassaladora dos sentimentos.

Eu não quero ter medo de estranhos ou ficar sozinha / Eu não quero jogar pelo seguro“, resume na já conhecida 2007, criação em que, mais uma vez, transporta para os versos tudo aquilo que habita e tumultua os próprios pensamentos. São composições que partem de experiências pessoais, mas que em nenhum momento se distanciam do ouvinte, efeito direto do lirismo honesto, por vezes descritivo, que detalha cenas e acontecimentos na mesma medida em que deixa transbordar as angústias vividas pela cantora. Um intenso fluxo de consciência que destaca o minucioso trabalho de Folick como compositora.

Embora consumido pelas emoções e temas existenciais de difícil digestão, Roach, assim como o registro que o antecede, a todo momento destaca a capacidade de Folick em dialogar com o pop. Sempre que mergulha na construção de faixas marcadas pela densidades dos versos, a artista contrasta os próprios sentimentos com momentos de maior libertação. Exemplo disso fica bastante evidente na urgência de Get Out Of My House, composição que transporta o disco para um novo território criativo. “Pensei que precisava do seu brilho / Precisava de você para estar em casa / Mas eu estou melhor sozinha“, celebra.

E ela está longe de ser o único momento de euforia do disco. Minutos à frente, em So Clear, Folick parte de uma abordagem melancólica (“Eu estava triste como você vê nos filmes / chorando no chão do banheiro“), mas que encontra na fluidez dos sintetizadores e batidas deliciosamente dançantes um componente de transformação (“Eu me puxo para fora da poeira / Eu sou sol e mar, tão de repente / Tão claro para mim“). Com base nessa estrutura, difícil não pensar em Roach como uma intensa jornada emocional. Composições que encolhem e crescem a todo instante, ampliando tudo aquilo que foi apresentado em Premonitions.

Pena que essa forte carga emocional que orienta o desenvolvimento do disco foi parcialmente dissolvida pelo confuso processo de divulgação de Roach. Das 13 composições do álbum, dez foram previamente reveladas ao público, eliminando a sensação de surpresa e possível impacto causado em uma primeira audição. Ainda assim, tudo é tratado de maneira tão sensível e próxima que é difícil não se deixar guiar pelos sentimentos e versos confessionais de Folick. Um delicado exercício de exposição emocional que sufoca, tensiona e resgata memórias dolorosas na mesma medida em que parecer confortar o ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.