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Crítica

Mk.gee

: "Two Star & the Dream Police"

Ano: 2024

Selo: R&R

Gênero: Indie, Bedroom Pop, R&B

Para quem gosta de: Jai Paul e Frank Ocean

Ouça: Are You Looking Up, Candy e How Many Miles

8.0
8.0

Mk.gee: “Two Star & The Dream Police”

Ano: 2024

Selo: R&R

Gênero: Indie, Bedroom Pop, R&B

Para quem gosta de: Jai Paul e Frank Ocean

Ouça: Are You Looking Up, Candy e How Many Miles

/ Por: Cleber Facchi 21/02/2024

A guitarra solitária que vai de Prince a Jai Paul, as vozes sempre carregadas de efeito, como se saídas de algum trabalho de Bon Iver, a estranha interpretação sobre o R&B, como um diálogo torto com a obra de Frank Ocean. Em Two Star & The Dream Police (2024, R&R), primeiro álbum de estúdio de Michael Todd Gordon, o Mk.gee, as referências são bastante explícitas, mas isso não diminui em nada o fascínio sobre a criação do cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor norte-americano. São retalhos poéticos e instrumentais que destacam o esforço do artista de Nova Jersey em sutilmente perverter a música pop.

Marcado pela fragmentação dos elementos, direcionamento também explícito nos registros anteriores do músico, caso do EP Pronounced McGee (2018) e a mixtape A Museum of Contradiction (2020), Two Star & The Dream Police é uma obra que se revela ao público em pequenas doses, sem pressa. Canções formadas a partir de camadas de guitarras, batidas sempre econômicas, sintetizadores enevoados e inserções vocais que, mesmo distorcidas, em nenhum momento ocultam o domínio técnico do artista. Exemplo disso pode ser percebido na curtinha Rylee & I, composição que soa como uma demo perdida de Michael Jackson.

Vem justamente dessa sensação de incompletude o grande charme do trabalho. Como indicado logo nos minutos iniciais do disco, na introdutória New Low, sempre que uma ideia começa a se formar, Mk.gee rapidamente muda de direção, levando a obra para outros territórios. É como se diferentes composições fossem estranhamente fatiadas e reorganizadas dentro de cada faixa, como um acumulo natural das experiências compiladas pelo artista em estúdio. Instantes em que o músico vai do pop psicodélico ao experimentalismo eletrônico, tratamento evidente no som labiríntico que invade Are You Looking Up.

Embora utilize de uma abordagem essencialmente plural, estabelecendo pequenas rupturas estéticas que sutilmente mudam os rumos do registro, Two Star & The Dream Police em nenhum momento rompe o que parece ser uma proposta criativa bastante característica do músico estadunidense. Da escolha dos timbres, passando pelo posicionamento das vozes e bases submersas, tudo gira em torno de um mesmo conjunto de ideias e temas instrumentais. A própria How Many Miles, revelada logo na abertura do trabalho, funciona como uma boa representação desse resultado, preparando musicalmente o terreno para o resto da obra.

Claro que isso não impede o compositor de se desafiar criativamente. Com as guitarras posicionadas em primeiro plano, lembrando uma canção perdida do Unknown Mortal Orchestra, Candy talvez seja a faixa que melhor exemplifica isso. É como um aceno para o rock dos anos 1970, porém, preservando a relação de Mk.gee com o R&B. A própria I Want, vinda em sequência, é outra que chama a atenção do ouvinte pela curiosa relação do artista com o passado. São ambientações oitentistas que vão de encontro ao mesmo território explorado por veteranos como The Blue Nile e outros nomes de peso do sophisti-pop britânico.

Verdadeiro catálogo de referências, ritmos e temas instrumentais Two Star & The Dream Police destaca a versatilidade de Mk.gee na mesma medida em que expõe o músico sentimentalmente. Como indicado nos minutos iniciais do trabalho, cada nova composição destaca a vulnerabilidade dos versos que tratam sobre relacionamentos instáveis, amores passageiros e momentos de maior fragilidade emocional. É como se o músico, conhecido pela forte parceria criativa com românticos como Omar Apollo e Dijon, seguisse de onde parou com seus colaboradores, porém, partindo de um direcionamento ainda mais sensível e intimista.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.