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Crítica

No Age

: "People Helping People"

Ano: 2022

Selo: Drag City

Gênero: Experimental, Indie Rock

Para quem gosta de: Liars e Preoccupations

Ouça: Andy Helping Andy e Tripped Out Before Scott

7.4
7.4

No Age: “People Helping People”

Ano: 2022

Selo: Drag City

Gênero: Experimental, Indie Rock

Para quem gosta de: Liars e Preoccupations

Ouça: Andy Helping Andy e Tripped Out Before Scott

/ Por: Cleber Facchi 29/09/2022

Durante o anúncio de People Helping People (2022, Drag City), a escolha de Andy Helping Andy como primeira composição a ser apresentada ao público parecia servir como um forte indicativo da direção criativa que viria a ser explorada pelo No Age no sexto álbum de estúdio da banda. Longe dos temas ruidosos e evidente urgência que marca os primeiros trabalhos do projeto formado por Randy Randall (guitarra) e Dean Allen Spunt (bateria e voz), a dupla de Los Angeles decidiu investir em uma criação totalmente imersiva e atmosférica, como uma síntese conceitual que orienta parte expressiva do registro.

Com You’re Cooked como música de abertura do trabalho, essa proposta da dupla estadunidense fica ainda mais evidente. São ambientações psicodélicas e efeitos sutis, estrutura que se completa pelo uso calculado das batidas, como uma fuga do repertório entregue no disco anterior, Goons Be Gone (2020). Não se trata de algo realmente novo dentro da discografia da banda, vide canções como Keechie e Skinned, porém, poucas vezes antes o som produzido pelo No Age pareceu tão contido. É como um lento desvendar de informações e estruturas pouco usuais que parecem pensadas para atiçar a curiosidade do ouvinte.

O mais interessante talvez seja perceber a forma como Randall e Spunt fazem isso em um curto intervalo de duração. São faixas essencialmente efêmeras. Fragmentos instrumentais e poéticos que se resolvem em um intervalo de um a dois minutos, mergulhando na construção de temas labirínticos e momentos de maior experimentação que evidenciam o caráter provocativo da banda. Exemplo disso acontece na curiosa Interdependence, com suas ambientações que encolhem e crescem a todo instante. Nada que prejudique a construção de músicas ainda íntimas dos introdutórios Nouns (2008) e Everything in Between (2010).

Próxima ao encerramento do trabalho, Tripped Out Before Scott talvez seja a composição que melhor representa esse resultado. Do uso ruidoso das guitarras, passando pela potência da bateria, cada fragmento da canção traz de volta o que há de melhor e mais barulhento no som produzido pela banda. Sexta faixa do disco, Violence, como o próprio título aponta, é outra que utiliza da mesma arquitetura caótica. Surgem ainda criações como Rush To The Pond, música que começa pequena, cresce e ainda abre passagem para Slow Motion Shadow, com suas captações caseiras que fazem lembrar da coletânea Weirdo Rippers (2007).

Dessa forma, Randall e Spunt atendem aos interesses dos antigos ouvintes, porém se permitem provar de novas possibilidades durante toda a execução do trabalho. Localizada logo na abertura do disco, Compact Flashes talvez seja a composição que melhor evidencia isso. Partindo de uma base cíclica que faz lembrar das criações de veteranos com Can, a canção assume diferentes formatações a cada novo movimento da dupla. Mais à frente, em Blueberry Barefoot, são os temas transcendentais que chamam a atenção. Mesmo a já citada Andy Helping Andy ganha novo e curioso significado quando observada como parte do registro.

O problema é que nesse espaço marcado pela ruptura e busca por diferentes direções criativas, muitas das composições apresentadas pela banda ecoam como ideias em formação. Seja pela curta duração ou forte similaridade entre as faixas, registros como Fruit Bat Blunder e Flutter Freer parecem mais esboços do que criações completas. Ainda assim, prevalece em People Helping People o caráter provocativo e esforço da dupla estadunidense em transitar por diferentes estilos de forma pouco usual. Canções que vão de um canto a outro em uma clara representação do que há de mais versátil no som produzido pelo No Age.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.