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Crítica

NOIA

: "Gisela"

Ano: 2023

Selo: Cascine

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Caroline Polachek e Buscabulla

Ouça: Didn't Know, Eclipse de Amor e Reveal Yourself

7.5
7.5

NOIA: “Gisela”

Ano: 2023

Selo: Cascine

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Caroline Polachek e Buscabulla

Ouça: Didn't Know, Eclipse de Amor e Reveal Yourself

/ Por: Cleber Facchi 26/04/2023

Como forma de separar o trabalho que vinha desenvolvendo como compositora e engenheira de som em diferentes filmes e programas de TV, Gisela Fulla-Silvestre passou a adotar uma nova identidade quando decidiu investir de vez na carreira artística. Utilizando do pseudônimo de NOIA, a musicista e produtora nascida em Barcelona deu vida a uma série de registros menores e preciosidades como Nostalgia Del Futuro e Ciudad del Humo, alcançando um delicado ponto de equilíbrio entre o experimentalismo e o pop, direcionamento que embala as composições do material entregue no introdutório Gisela (2023, Cascine).

Com o título extraído do verdadeiro nome da artista, o trabalho de dez faixas nasce com um exercício em que a cantora mais uma vez busca estabelecer e desconstruir a própria identidade criativa. São canções que partem de experiências pessoais, como a mudança de Fulla-Silvestre para a cidade de Nova Iorque e o turbulento período de isolamento social vivido durante a pandemia de Covid-19, mas que a todo momento estabelecem relações com o ouvinte. O próprio uso destacado das vozes e ausência das bases em Anoche, música de abertura do disco, serve de passagem para esse território tão pessoal quanto compartilhado.

Por falar nas vozes de Fulla-Silvestre, são justamente elas que conduzem a experiência do ouvinte durante toda a execução do material. São formas liquefeitas, rítmicas, límpidas ou mesmo carregadas de efeitos, como um elemento que assume diferentes formatações para atender aos interesses da artista espanhola. E isso fica bastante evidente na sequência de abertura do álbum. Enquanto Didn’t Know, colaboração com a colombiana Ela Minus, alterna entre a clareza e a desconstrução, Reveal Yourself, vinda logo em sequência, trata dos vocais como um instrumento essencialmente volátil que vai das bases aos versos existencialistas.

Entretanto, a voz está longe de ser encarada como o único componente a ser testado por NOIA ao longo da obra. Em Glitter Branca, por exemplo, são as batidas fragmentadas e texturas eletrônicas que chamam a atenção do ouvinte, como um diálogo de Fulla-Silvestre com as criações de SOPHIE e Arca. Nada que prejudique a relação da artista com o pop tradicional, como em Otra Vida Por Vivir, parceria com Maria Arnal em que se distancia de possíveis rupturas para dialogar com uma parcela ainda maior de ouvintes, conceito que se completa em Canço Del Bes Sense Port, interlúdio que faz lembrar de nomes como Rosalía.

Independente da direção percorrida em estúdio, é quando alcança um ponto de conexão entre esses dois extremos que Fulla-Silvestre garante ao público algumas das melhores criações do disco. Sétima faixa do trabalho, Eclipse de Amor funciona como uma delicada representação desse resultado. Completa pela participação da dupla porto-riquenha Buscabulla, a canção vai da cúmbia ao pop psicodélico em uma abordagem marcada pelos detalhes. Tudo é tão bem executado que Life Lived Through You, vinda logo em sequência, passa quase despercebida, como uma ponte para o material entregue em Verano Adentro.

Interessante perceber na derradeira Estranha Forma de Vida, releitura para um dos grandes sucessos da portuguesa Amália Rodrigues (1920 – 1999), responsável pela popularização do fado, a passagem para um novo território criativo. São ambientações acústicas que se completam pelo pop cósmico da artista espanhola. Instantes em Fulla-Silvestre parte de uma criação há muito incorporada por diferentes nomes da música, como Caetano Veloso e Maria Bethânia, porém, preservando traços da própria identidade, tratamento que acaba se refletindo em cada mínimo fragmento, mesmo nos mais irregulares, de Gisela.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.