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Crítica

NoPorn

: "Contra Dança"

Ano: 2022

Selo: Independente

Gênero: Eletrônica, Electropop, Synthpop

Para quem gosta de: Letrux e Teto Preto

Ouça: Contra Dança, Adoro DJs e Perigo

7.8
7.8

NoPorn: “Contra Dança”

Ano: 2022

Selo: Independente

Gênero: Eletrônica, Electropop, Synthpop

Para quem gosta de: Letrux e Teto Preto

Ouça: Contra Dança, Adoro DJs e Perigo

/ Por: Cleber Facchi 09/09/2022

Havia um forte senso de descoberta e fino toque de timidez em tudo aquilo que foi entregue pelo NoPorn durante o lançamento do ainda recente Sim (2021). Primeiro registro da parceria entre Liana Padilha e o produtor Lucas Freire, ocupando o espaço antes assumido por Luca Lauri, o trabalho que revelou faixas como Festa no Meu Quarto e Geleia de Morango funciona como um chamado às pistas, porém, de forma essencialmente contida. É como uma fuga lenta do período de confinamento a que fomos submetidos. Um exercício de retomada pós-pandêmico, busca por novas sensações e pequenas rupturas estéticas que se completam agora com o repertório montado pelos dois artistas em Contra Dança (2022, Independente).

Sequência ao material entregue há poucos meses, o álbum preserva a essência reducionista do registro que o antecede, porém, traz de volta a potência dos antigos trabalhos do NoPorn. Exemplo disso fica bastante evidente na própria faixa-título do disco. Enquanto Freire se concentra na formação das batidas e uso de sintetizadores ruidosos, Padilha se aprofunda na construção de personagens decadentes, cenas e acontecimentos de forma sempre minuciosa e provocativa. “Acho triste a sua alegria / Amigos de foto / Caras sem assunto / #Graditão / Meu mundo é mais que seu look“, detalha em um misto de canto e rima.

São composições que começam pequenas, ganham corpo e crescem de forma a transportar o ouvinte para as pistas. É o caso de Perigo, nona faixa do disco. Partindo da urgente sobreposição batidas, Freire aponta a direção para a protagonista que atravessa os versos de Padilha. “Se joga garota no mundo sem medo / Sozinha de noite na rua … Ela é o perigo“, canta. E ela não é a única. Durante toda a execução do material, diferentes personagens femininas surgem e desaparecem em meio a paisagens urbanas. São figuras imponentes, mulheres solitárias, garotas em busca de diversão, sexo, refúgio e realizações pessoais.

Cada disco fala de um mini mundo. Nesse, em muitas letras a voz é feminina. A força feminina é uma pauta cara, uma poética rara e necessária nesse momento do mundo“, disse Padilha no texto de apresentação do material. Sobrevive justamente nesse olhar atento da artista sobre o atual cenário político e cultural do país o estímulo para parte expressiva das canções. São fragmentos poéticos que se distanciam das pistas de forma a incorporar diferentes temáticas. Perfeita representação desse resultado acontece em Nome Sujo, música que trata sobre o crescente êxodo de pessoas fugindo da violência e ignorância que assola o Brasil.

Nada que prejudique a construção de faixas deliciosamente dançantes e escapistas, ainda íntimas dos antigos trabalhos da dupla. É o caso de Adoro DJs. São pouco mais de três minutos que Padilha e Freire fazem da música um convite a se perder pelas pistas. “O som vira onda no ar e molha o ouvido / Aqui de longe na pista o corpo grita nos graves / É tudo assim tão brilhante / Acho que vou voar“, cresce a letra da canção. O mesmo acontece em Antropofagia do Amor, música que sustenta no uso das guitarras e ruídos metálicos um regresso ao início dos anos 2000, lembrando as criações de LCD Soundsystem e The Rapture.

Toda essa abrangência de ideias, criativa costura de ritmos e busca por diferentes temáticas faz de Contra Dança o trabalho mais completo do NoPorn desde o material entregue no autointitulado registro de estreia. Mesmo que momentos de maior instabilidade sejam percebidos durante toda a execução do trabalho, como no encerramento brusco de Sereia e na rima fácil que consome Dezembro, prevalece o refinamento e evidente sincronia de Freire e Padilha. São composições que preservam o caráter dançante da dupla, porém, crescem no aprofundamento lírico e evidente desejo em ampliar o próprio campo de atuação.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.