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Crítica

Nourished By Time

: "Erotic Probiotic 2"

Ano: 2023

Selo: Scenic Route

Gênero: R&B, Eletrônica, Indie

Para quem gosta de: Blood Orange e Tirzah

Ouça: Daddy, The Fields e Quantum Suicide

7.9
7.9

Nourished By Time: “Erotic Probiotic 2”

Ano: 2023

Selo: Scenic Route

Gênero: R&B, Eletrônica, Indie

Para quem gosta de: Blood Orange e Tirzah

Ouça: Daddy, The Fields e Quantum Suicide

/ Por: Cleber Facchi 16/05/2023

De instrumentação e acabamento diminuto, Erotic Probiotic 2 (2023, Scenic Route) é um trabalho que cresce a cada nova audição. Estreia do cantor, compositor e produtor norte-americano Marcus Brown como Nourished By Time, o registro de nove canções destaca a capacidade do artista em utilizar do reducionismo para fortalecer os próprios sentimentos e temas incorporados dentro do material. “O caminho está embaçado, mas eu vou mesmo assim“, canta na introdutória Quantum Suicide, música que soa como um convite a se perder nesse estranho território criativo cuidadosamente planejado por Brown.

Dado o primeiro passo dentro do álbum, Brown, que já colaborou com nomes como Yaeji e Dry Cleaning, se aprofunda na construção de faixas que transitam por entre estilos, diferentes épocas e referências de forma bastante particular. E isso fica ainda mais evidente com a chegada de Shed The Fear, música que evoca nomes como Arthur Russell e The Blue Nile, porém, em um enquadramento voltado ao R&B, conceito que ganha novo tratamento na canção seguinte, Daddy. Pouco mais de quatro minutos em que o produtor atravessa as pistas na mesma medida em que preserva o direcionamento econômico dado ao registro.

É como o produtor partilhasse do mesmo catálogo de ideias que costuma orientar as criações de Blood Orange. Uma combinação empoeirada de passado e presente, mas que nunca perverte a identidade criativa do próprio artista. Exemplo disso pode ser percebido em The Fields. Precedida de um interlúdio caprichado, a faixa oscila entre conflitos religiosos e tormentos pessoais enquanto destaca o lado mais acessível de Nourished By Time. “Uma ou duas vezes eu orei a Jesus / Nunca ouvi uma palavra em inglês simples / Mais como sinais ou anúncios / Me dizendo para continuar consumindo“, confessa Brown.

O mais interessante talvez seja perceber a forma como Brown garante profundidade ao trabalho mesmo partindo de uma abordagem essencialmente reducionista. Em Rain Water Promise, por exemplo, são as mesmas batidas esqueléticas que invadem o disco nos minutos iniciais, mas que se completam pelo uso de sintetizadores calculados e versos que destacam as angústias do artista. “Mas eu prometo, enquanto a água da chuva se acumula em minhas mãos / Eu não vou desmoronar“, canta. Canções que partem de conflitos pessoais, traumas e momentos de maior vulnerabilidade emocional para estreitar laços com o ouvinte.

A própria Soap Party, vinda logo em sequência, potencializa esse resultado. Entre camadas de pianos e batidas que reforçam o aspecto caseiro da produção, Brown reflete sobre o desejo de mudança dentro de um relacionamento. “Eu tenho medo de não saber o que dizer / Se tudo renascer depois da tempestade / Chova em mim“, canta. A canção ainda abre passagem para a curtinha Workers Interlude, música encarada como um respiro sonoro dentro de Erotic Probiotic 2, mas que em nenhum momento deixa de destacar a poesia minuciosa do artista, agora regida por questões raciais que ampliam os limites da obra.

Com Unbreak My Love como composição de encerramento, Brown mais uma vez investe na temática romântica que orienta parte expressiva do trabalho. São pequenas repetições estruturais, percepção reforçada na base instrumental da canção, mas que não necessariamente prejudicam o desenvolvimento do disco. De fato, tão logo tem início, na já citada Quantum Suicide, fica bastante evidente o esforço do produtor em estabelecer a própria identidade criativa. Da escolha dos timbres ao tratamento dado às batidas e vozes, tudo gira em torno de um mesmo conjunto de elementos que não apenas apresentam de maneira eficiente o som de Nourished By Time, como abrem passagem para os futuros lançamentos.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.