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Ano: 2021

Selo: Balaclava Records

Gênero: Rock, Samba

Para quem gosta de: Domenico Lancellotti e Kassin

Ouça: Maior, Há Um e Dia

7.8
7.8

Pedro Sá: “Um”

Ano: 2021

Selo: Balaclava Records

Gênero: Rock, Samba

Para quem gosta de: Domenico Lancellotti e Kassin

Ouça: Maior, Há Um e Dia

/ Por: Cleber Facchi 17/11/2021

Não seria uma surpresa se o primeiro trabalho de Pedro Sá em carreira solo fosse marcado pelo forte aspecto colaborativo. Desde o início da carreira, quando deu vida ao Mulheres Q Dizem Sim, o cantor, compositor, produtor e guitarrista carioca fez do diálogo com diferentes artistas um estímulo natural para a própria obra. E isso se reflete de forma bastante expressiva em cada um dos projetos em que esteve envolvido, como a Orquestra Imperial, os encontros com Moreno Veloso, Alexandre Kassin e Domenico Lancellotti, no +2, ou mesmo no diálogo com veteranos da música brasileira, caso de Gal Costa, Adriana Calcanhotto e Caetano Veloso, com quem colaborou na série de registros da cultuada trilogia .

Entretanto, ao mergulhar nas canções de Um (2021, Balaclava Records), Sá não apenas investe na produção de um repertório reducionista, como trilha de forma solitária cada uma das faixas que recheiam o álbum. Com exceção do processo de composição do material, em que estreitou a relação com parceiros de longa data, como Lancelotti e Kassin, e dos técnicos de som que registraram as faixas em estúdio, tudo se resolve a partir da econômica combinação entre guitarra e voz. Um estrutura totalmente esquelética, crua, mas não menos interessante e hipnótica, capaz de capturar a atenção do ouvinte logo em uma primeira audição.

Livre de possíveis excessos, cada composição parece potencializar os sentimentos e versos sutilmente detalhados pelo artista durante toda a execução do material. São momentos de maior melancolia, personagens e paisagens descritivas que atravessam um Rio de Janeiro coberto pelas nuvens, conceito que dialoga diretamente com a imagem de capa do trabalho, uma fotografia registrada pelo próprio instrumentista. Instantes em que Sá transforma as próprias inquietações, medos e sentimentos em um importante componente de diálogo com o ouvinte, proposta que se reflete até a derradeira Mormaço.

Não por acaso, o músico carioca fez da atmosférica Maior a primeira composição do disco a ser revelada ao público. São movimentos calculados que se completam pelo uso atento das vozes e versos sempre confessionais, divididos entre a celebração romântica e o peso da saudade. “Seu olhar de tamanha pureza e beleza / Me encontra no mar sem fim / O infinito tocou em mim“, detalha em meio a guitarras timbrísticas. Essa mesma estrutura, porém, partindo de uma base melancólica, acaba se refletindo minutos à frente, na acinzentada Quem, faixa consumida pela incerteza das palavras e base deliciosamente ruidosa.

São justamente essas distorções e efeitos metálicos que garantem maior profundidade ao registro, rompendo com a base excessivamente simplista que consome os minutos iniciais da obra. É como se Sá alcançasse um ponto de equilíbrio entre o reducionismo de João Gilberto e os blocos colossais de Jimi Hendrix, duas das principais referências criativas para a realização do trabalho. E isso fica ainda mais evidente em Dia. Uma das primeiras composições do disco e serem desenvolvidas pelo instrumentista, a faixa parte de uma base econômica, mas que parece crescer à medida que o músico brinca com a manipulação dos elementos, ruídos e sobreposições que delirantemente ampliam os limites da canção.

Vem dessa base contrastante o estímulo para grande parte do trabalho. São composições que encolhem e crescem a todo instante, como um complemento aos versos que se dividem entre momentos de maior melancolia e doce celebração. É como se o guitarrista resgatasse uma série de elementos rítmicos, poéticos e sentimentais que tem sido explorados em mais de duas décadas de carreira, porém, partindo de uma abordagem essencialmente sintética e que preserva apenas o que há de melhor dentro de cada canção.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.