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Crítica

Perfume Genius

: "Ugly Season"

Ano: 2022

Selo: Matador

Gênero: Art Pop, Pop de Câmara

Para quem gosta de: Björk e ANOHNI

Ouça: Eye In The Wall e Hellbent

8.5
8.5

Perfume Genius: “Ugly Season”

Ano: 2022

Selo: Matador

Gênero: Art Pop, Pop de Câmara

Para quem gosta de: Björk e ANOHNI

Ouça: Eye In The Wall e Hellbent

/ Por: Cleber Facchi 24/06/2022

Ugly Season (2022, Matador) talvez seja o trabalho mais complexo já apresentado por Perfume Genius. Originalmente pensado por Mike Hadreas como parte do espetáculo The Sun Still Burns Here, criação da coreografa Kate Wallich e que contou com a participação do músico, o registro teve duas de suas faixas reveladas ao público há três anos, Eye In The Wall ePop Song, porém, acabou deixado de lado para que Hadreas pudesse se dedicar ao quinto álbum de estúdio carreira, Set My Heart on Fire Immediately (2020). Foi somente durante o período de isolamento social que o artista, mais uma vez acompanhado pelo produtor Blake Mills (Fiona Apple, Laura Marling), regressou ao projeto. E o resultado final surpreende.

Diferente de tudo aquilo que Perfume Genius já havia testado anteriormente, Ugly Season é um trabalho muito mais orientado à construção dos arranjos do que necessariamente ao lirismo confessional que tanto caracteriza as criações do artista. E isso fica bastante evidente logo na música de abertura do disco, Just a Room. Soterrada em meio a orquestrações densas, a voz de Headres se projeta como um respiro sufocado. “Nenhum padrão / Sem flor / Onde estou te levando / Plano e estático / Apenas um quarto“, detalha o compositor, tateando poeticamente as paredes do estranho território criativo que se apresenta ao ouvinte.

A partir desse ponto, Hadreas abre passagem para uma obra em que é possível esperar de tudo, menos o óbvio. É como se o cantor seguisse de onde havia parado durante a produção de No Shape (2017), inicio da parceria com Mills, porém, utilizando de uma abordagem marcada pelo aspecto labiríntico dos elementos e pequenas quebras conceituais. Canções que começam pequenas, quase minimalistas e misteriosas, mas que ganham novas tonalidades e assumem diferentes rumos a medida que o registro avança. Instantes em que o artista norte-americano vai da música de câmara à produção eletrônica de forma quase ritualística.

Mesmo localizada próxima ao encerramento do álbum, Hellbent funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto os versos da composição partem de cenas e acontecimentos descritivos, musicalmente, Perfume Genius parece testar os próprios limites em estúdio. São camadas de guitarras, ruídos sintéticos, batidas e vozes fantasmagóricas que contribuem para o permanente estado de tensão proposto pelo artista. Pouco mais de seis minutos em que Hadreas se distancia da atmosfera enevoada dos últimos discos para mergulhar em um ambiente sombrio e caótico, lembrando as criações de Scott Walker.

Essa mesma ausência de certeza e permanente combinação entre sufocamento e libertação acaba se refletindo durante toda a execução do material. São músicas como Photograph e Teeth em que Hadreas preserva traços dos antigos trabalhos, como no tratamento dado aos sintetizadores, porém, utiliza da costura de diferentes componentes rítmicos de forma a garantir um acabamento totalmente inesperado. Dessa forma, mesmo velhas conhecidas, como Eye In The Wall e Pop Song, ganham novo significado quando observadas como parte do disco. É como um lento e sempre curioso desvendar de informações.

Contudo, por se tratar de uma obra inicialmente pensada para os palcos, como parte de uma performance, não são poucos os momentos em que Ugly Season soa como um registro incompleto. Composições que se estendem para além do necessário, talvez antecipando um movimento coreografado por Kate Wallich, mas que pouco contribuem para o andamento dado ao disco. A própria Scherzo, criação de Alan Wyffels, parceiro de Hadreas, rompe bruscamente com o ritmo do álbum. São momentos de maior instabilidade que talvez comprometessem a estrutura de outros registros apresentados por Perfume Genius ao longo da última década, mas que funcionam dentro do estranho e sempre mutável ambiente proposto pelo músico.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.