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Críticas

Perfume Genius

: "No Shape"

Ano: 2017

Selo: Matador

Gênero: Indie, Chamber Pop, R&B

Para quem gosta de: Owen Pallett, Arca

Ouça: Slip Away, Sides e Go Ahead

9.0
9.0

Resenha: “No Shape”, Perfume Genius

Ano: 2017

Selo: Matador

Gênero: Indie, Chamber Pop, R&B

Para quem gosta de: Owen Pallett, Arca

Ouça: Slip Away, Sides e Go Ahead

/ Por: Cleber Facchi 08/05/2017

Com o lançamento de Too Bright, trabalho entregue ao público em setembro de 2014, Mike Hadreas encontrou a passagem para um mundo de novas possibilidades como Perfume Genius. Longe do folk intimista detalhado nos inaugurais Learning (2010) e Put Your Back N 2 It (2012), em parceria com Adrian Utley, um dos integrantes do Portishead, o cantor e compositor norte-americano fez do uso de experimentos eletrônicos um provocativo exercício de transformação, ruptura que se banha em sentimentos e confissões românticas dentro do quarto álbum de estúdio do cantor, No Shape (2017, Matador).

Sensível, como tudo aquilo que o músico de Seattle vem produzindo nos últimos anos, o trabalho de 13 faixas e produção assumida por Blake Mills (Sky Ferreira, Fiona Apple) mostra Hadreas em sua melhor forma. Entre versos consumidos pela dor, medos, confissões românticas e elementos que dialogam com os conflitos de qualquer casal, o álbum delicadamente convida o ouvinte a visitar o cotidiano do artista e seu colaborador de longa data, Alan Wyffels, parceiro de Hadreas nos palcos e marido há oito anos.

Você notou / Nós dormimos durante a noite / Você notou / Tudo está bem … Você precisa de mim / Descanse, estou aqui“, canta na derradeira Alan, uma homenagem ao parceiro de longa data e perfeita representação da poesia intimista que abastece o disco. São versos temperados pela vida amorosa e sentimentos confessos de Hadreas, conceito reforçado logo nos primeiros minutos do álbum, em Slip Away — “Você nunca terá que se esconder / Pegue minha mão, pegue meu tudo / Se nós só temos um momento / Dê para mim, agora“.

Tamanha honestidade na composição dos versos acaba fazendo de No Shape uma obra que seduz o ouvinte logo em uma primeira audição. Do isolamento que cresce na letra da inaugural Otherside, aos versos sufocantes de Choir, passando pelo romantismo doloroso de Die 4 You até a relação de proximidade em Alan, Hadreas e o parceiro exploram todas as facetas da vida conjugal — sejam elas tristes ou felizes. Um turbilhão de emoções que expande consideravelmente a trilha assumida pelo Perfume Genius desde o primeiro álbum de estúdio.

Em se tratando dos arranjos do disco, No Shape talvez seja o trabalho mais abrangente e inovador de toda a curta discografia de Perfume Genius. São passagens pelo R&B/Soul em Go Ahead e Die 4 You, a orquestração eletrônica que cresce em Choir, ou mesmo o folk descomplicado da acolhedora Valley. Canções que vão do minimalismo intimista de Braid à explosão de ruídos de Slip Away, música que bebe da mesma fonte conceitual de Grid e Queen, ambas apresentadas em Too Bright. Uma colagem de ideias que alcança melhor resultado em Sides, bem-sucedida parceria entre Hadreas e a cantora Weyes Blood.

Grandioso, No Shape distancia Perfume Genius de uma possível zona de conforto, percepção reforçada dentro de cada nova composição do disco. Trata-se de uma obra em que o músico norte-americano parece testar os próprios limites, colidindo ideias e referências em uma linguagem que muito se assemelha ao trabalho de Owen Pallett em In Conflict (2014) ou mesmo Alejandro Ghersi no terceiro e mais recente álbum de inéditas do Arca. Composições que fazem da vida pessoal de Hadreas e Wyffels um poderoso componente criativo.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.