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Crítica

Petite Noir

: "MotherFather"

Ano: 2023

Selo: Roya

Gênero: Art Pop, R&B

Para quem gosta de: Young Fathers e Desire Marea

Ouça: Finding Paradise, Blurry e Play

7.0
7.0

Petite Noir: “MotherFather”

Ano: 2023

Selo: Roya

Gênero: Art Pop, R&B

Para quem gosta de: Young Fathers e Desire Marea

Ouça: Finding Paradise, Blurry e Play

/ Por: Cleber Facchi 18/05/2023

Oito anos se passaram desde que Petite Noir deu vida ao último álbum de estúdio, o introdutório La Vie Est Belle / Life Is Beautiful (2015). De lá pra cá, o cantor e compositor que nasceu na Bélgica e cresceu na África do Sul até chegou a se aventurar em composições inéditas, como Blame Fire e Beach, além de colaborar criativamente com nomes como Danny Brown, porém, a ideia de produzir um novo trabalho parecia cada vez mais distante. Pelo menos até agora. De volta com MotherFather (2023, Roya), o músico de ascendência congolesa continua a se aventurar na colorida combinação de ritmos, vozes, parceiros e novas temáticas.

Inaugurado pela raivosa 777, música que faz lembrar dos últimos lançamentos de Yves Tumor, o registro de dez faixas diz a que veio logo nos minutos iniciais. E isso fica ainda mais evidente com a chegada da composição seguinte, Blurry, faixa que parte de uma base psicodélica, abre passagem para o encaixe das batidas e pouco a pouco cai no R&B, como um jogo de pequenas sobreposições e costuras rítmicas que ainda se completa pela participação da zambiana Sampa The Great. Nada que Numbers, vinda em sequência, não dê conta de perverter, transportando o álbum para um novo e inusitado território criativo.

Entre bases sampleadas e fragmentos de vozes, o músico belga alcança um ponto de equilíbrio entre o R&B e a sutileza do cloud rap, proposta que aponta para o repertório de produtores como Clams Casino, porém, preservando a identidade do artista. Partindo dessa abordagem atmosférica, Petire Noir abre passagem para a composição seguinte, Concrete Jungle. Pouco mais de dois minutos em que vozes ecoadas se espalham em meio a orquestrações econômicas, direcionamento que até chama a atenção, mas acaba se revelando de maneira incompleta, como um esboço conceitual que carece de maior desenvolvimento.

Passado esse momento de maior instabilidade e o interlúdio apresentado em Skit, Finding Paradise traz o disco de volta aos eixos. Do uso das vozes, passando pela riqueza da percussão, proposta que evoca o trabalho de nomes como Young Fathers, tudo soa como uma reinterpretação aprimorada do repertório entregue pelo artista no registro anterior. Um precioso exercício criativo que ainda abre passagem para a composição seguinte, Simple Things, encontro com o trompetista norte-americano Theo Croker e uma delicada costura de ritmos que vai do reggae ao jazz sem necessariamente romper com o restante da obra.

Minutos à frente, em Best One, o músico preserva a riqueza dos elementos e uso destacado das vozes, contudo, esbarra em um resultado excessivamente contido. É como se toda a fluidez e grandeza que se manifesta nos minutos iniciais do trabalho fosse substituída por uma abordagem morna, consumindo a experiência do ouvinte. A própria Love Is a War, vinda logo em sequência, parece contribuir ainda mais para esse resultado. Pelo menos, o artista se permite brincar com o uso remodelado dos vocais, investindo em efeitos e texturas sintéticas, estrutura que se completa pela participação do francês Raphael Futura.

Embora essa mudança de ritmo comprometa a experiência do ouvinte nos minutos finais do trabalho, Play, composição escolhida para o encerramento do disco, mais uma vez evidencia o domínio criativo e potência de Petite Noir. Enquanto os versos destacam a vulnerabilidade do eu lírico, batidas rápidas e camadas de sintetizadores convidam o ouvinte a dançar, como uma interpretação ainda mais acessível de tudo aquilo que foi apresentado em faixas como Chess e demais sucessos do registro anterior. Uma verdadeira explosão de sons, ritmos e vozes que mais uma vez sintetiza a força do artista belga em estúdio.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.