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Crítica

Rico Dalasam

: "Escuro Brilhante, Último Dia No Orfanato Tia Guga"

Ano: 2023

Selo: Independente

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Jup do Bairro e Tássia Reis

Ouça: Imã, Quebrados e Ainda Espero

8.2
8.2

Rico Dalasam: “Escuro Brilhante, Último Dia No Orfanato Tia Guga”

Ano: 2023

Selo: Independente

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Jup do Bairro e Tássia Reis

Ouça: Imã, Quebrados e Ainda Espero

/ Por: Cleber Facchi 18/12/2023

Meu grande passo em direção ao amor / Sou eu me levando no braço“, declama Rico Dalasam logo nos minutos iniciais de Doce, poema que inaugura o mais recente trabalho de estúdio do paulistano, Escuro Brilhante, Último Dia No Orfanato Tia Guga (2023, Independente). Tão dolorosos quanto libertadores, os versos encaixados pelo rapper ajudam a entender a dualidade que movimenta o terceiro e último capítulo da trilogia iniciada com Dolores Dala Guardião do Alívio (2021) e seguida em Fim Das Tentativas (2022). São canções que tratam sobre amor, acolhimento e aceitação, mas que a todo momento estabelecem laços emocionais com o período de orfandade e transformações sentidas pelo artista da infância à vida adulta.

Partindo dessa contrastante combinação de elementos, Dalasam garante ao público uma obra marcada em essência pela atmosfera ensolarada. Composições que esboçam um sorriso tímido, mas que em nenhum momento parecem consumidas pela ilusão cega de uma vida perfeita. “Dos futuros que não vejo hoje / É medo do que pode ser infinito“, rima em Espero Ainda, música que destaca esse esforço do rapper em seguir em frente, mirando o futuro de novas possibilidades, porém, sempre pontuada pela sobriedade dos versos que deixam luzir as cicatrizes emocionais e memórias de um passado ainda recente do compositor.

Se por um lado esses freios sentimentais tendem a limitar a potência do trabalho e repetir uma série de elementos temáticos explorados nos discos anteriores, por outro, acabam servindo de trampolim para os momentos de real libertação do registro. Exemplo disso fica bastante evidente com a chegada de Sol Particular. Enquanto os versos celebram o amor com uma sensibilidade única (“Me tira do chão feito um andaime / Andando e vendo a vida na ponta da antena / Me atravessa / Faca de abrir coco, paixão de abrir peito“), arranjos e batidas radiantes levam a obra de Dalasam para um novo e excitante território criativo.

Em um diálogo cada vez mais aberto com o pop, Dalasam parece recuperar a euforia que lhe foi roubada após o imbróglio judicial envolvendo direitos autorais sobre a música Todo Dia, colaboração com Pabllo Vittar. E isso fica bastante evidente com o que talvez seja a principal faixa do disco, Imã. Com produção de Dinho, Mahal Pita e Chibatinha, com quem já havia trabalhado anteriormente, a composição destaca a capacidade do artista em se comunicar com o público por meio das emoções, porém, partindo de uma abordagem ainda mais acessível que vai da fluidez das batidas ao sempre meticuloso encaixe dos versos.

Mesmo quando trilha o caminho oposto e desacelera consideravelmente, como em Quebrados, delicada colaboração com Liniker, Dalasam em nenhum momento diminui o caráter radiofônico e fascinante brilho pop que ganha forma e cresce durante toda a execução da obra. São versos marcados por lembranças dolorosas (“Quantos cacos nossos servem pra se refazer“), porém, sempre regidos por um sentimento de esperança (“Quebrados / Onde o céu lasca no beijo / Eu amanheça do seu lado“), como o princípio de uma nova fase na carreira do artista. Um exercício particular, mas que a todo momento busca estreitar laços com diferentes parceiros criativos e novas inspirações, vide o sample de Eliana Pittman, na faixa Vicioso.

Capítulo final da jornada que teve início em Dolores Dala Guardião do Alívio, Escuro Brilhante conclui na mesma medida em que deixa o caminho aberto para os futuros trabalhos do artista. A própria canção de encerramento, Paixão Nova, funciona como um precioso indicativo do que ainda está por vir. São canções que apontam direções e criam expectativas pessoais, mas em nenhum momento rompem o contato com o presente e a relação do compositor com o próprio passado. Dessa forma, Dalasam oferece ao público uma obra que parece dançar pelo tempo, porém, estabelece no amor um precioso componente de amarra entre as faixas.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.