Ano: 2020
Selo: Jewel Runners / RBC / BMG
Gênero: Hip-Hop, Rap
Para quem gosta de: Danny Brown e Clipping
Ouça: Walking In The Snow, JU$T e Ooh La La
Ano: 2020
Selo: Jewel Runners / RBC / BMG
Gênero: Hip-Hop, Rap
Para quem gosta de: Danny Brown e Clipping
Ouça: Walking In The Snow, JU$T e Ooh La La
Quando surgiu, no início da década passada, o Run The Jewels parecia ser apenas um encontro temporário entre dois artistas que vinham de uma sequência de grandes obras. De um lado, Killer Mike, com PL3DGE (2011) e o político R.A.P. Music (2012), no outro, El-P, com bem-recebido Cancer For Cure (2012), primeiro registro de inéditas do produtor nova-iorquino depois de um longo período de hiato. Entretanto, a parceria entre a dupla não apenas resultou em um catálogo de grandes obras, como se transformou em um dos projetos mais cultuados e ativos do rap estadunidense. Composições que se espalham em meio a batidas fortes, temas eletrônicos e colaborações com diferentes artistas, proposta que ganha novo resultado nas canções de RTJ4 (2020, Jewel Runners / RBC / BMG).
Primeiro registro de inéditas da dupla em quatro anos, o sucessor de Run The Jewels 3 (2016), mostra Mike e El-P de volta aos trilhos, revelando a mesma força criativa do material entregue em Run the Jewels 2 (2014), um dos grande exemplares do rap norte-americano na última década. Composições que se entrelaçam em uma estrutura frenética, conceito que se reflete tão logo o disco tem início, na já conhecida Yankee And The Brave (ep. 4), mas que acaba orientando a experiência do ouvinte até a música de encerramento do álbum, A Few Words for the Firing Squad (Radiation).
Parte desse direcionamento vem da forma como o próprio trabalho foi concebido. São canções que nascem como uma resposta ao atual cenário político dos Estados Unidos, medidas excludentes propostas pelo presidente Donald Trump e, principalmente, a violência policial e série de protestos motivados pelo assassinato de pessoas pretas, como Michael Brown, Trayvon Martin e George Floyd. Exemplo disso está em Walking in The Snow, composição em que discute a forma como a imprensa vilaniza esses personagens negros e exalta ações policiais, contribuindo para um permanente cenário de guerra racial.
Entretanto, assim como nos registros que o antecedem, RTJ4 transita pelos mais variados espectros da cultura norte-americana, transportando para dentro de estúdio diferentes questões políticas e inquietações particulares que invadem a mente de cada realizador. Composições que discutem os efeitos do consumismo e o poder do dinheiro, como na colaborativa JU$T, parceria com Pharrell Williams e Zack de la Rocha, ou mesmo realizações particulares de Mike e El-P, marca de Ohh La La, uma das primeiras músicas do disco a serem apresentadas ao público. Instantes de doce celebração e momentos de forte angústia, dualidade que torna a experiência de ouvir o álbum sempre satisfatória.
A mesma versatilidade na composição dos versos se reflete na forma como El-P brinca com a formação das batidas durante toda a execução do trabalho. São fragmentos de vozes sampleadas, ruídos eletrônicos e batidas deliciosamente instáveis, conceito que tem sido aprimorado desde o primeiro álbum do Run The Jewels. Exemplo disso está na sonoridade labiríntica de Holy Calamafuck. São pouco menos de quatro minutos em que o produtor se une a nomes como Dave Sitek (TV On The Radio, Yeah Yeah Yahs) e Boots (Beyoncé, FKA Twigs) para jogar com a fragmentação das ideias. Um misto de reggae, pós-dubstep e hardcore, estrutura que acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra, como no som torto de Goonies Vs. E.T. e The Ground Below.
Dentro desse cenário marcado pela criativa colagem de ideias, nomes como Mavis Staples e Josh Homme (Pulling The Pin), 2 Chainz (Out Of Sight), Greg Nice e DJ Premier (Ooh La La) surgem e desaparecem durante toda a execução da obra, tornando a experiência de ouvir RTJ4 sempre incerta. Canções que partem da mente contestadora de Killer Mike, crescem na produção detalhista de El-P, mas estabelecem no diálogo com diferentes colaboradores o estímulo para um registro de essência abrangente, como se mesmo após o último verso de A Few Words for the Firing Squad (Radiation), faixa de encerramento do disco, o trabalho ainda reverberasse na cabeça do ouvinte.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.