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Crítica

Samantha Urbani

: "Showing Up"

Ano: 2023

Selo: Lucky Number

Gênero: Synthpop, Pop Rock

Para quem gosta de: Blood Orange e Empress Of

Ouça: More Than a Feeling e Time Keeps Slipping

7.4
7.4

Samantha Urbani: “Showing Up”

Ano: 2023

Selo: Lucky Number

Gênero: Synthpop, Pop Rock

Para quem gosta de: Blood Orange e Empress Of

Ouça: More Than a Feeling e Time Keeps Slipping

/ Por: Cleber Facchi 17/10/2023

Não se deixe enganar: ainda que Showing Up (2023, Lucky Number) seja apresentado como o primeiro trabalho de estúdio de Samantha Urbani, a cantora e compositora norte-americana está longe de ser encarada como uma iniciante. Em um intervalo de uma década, a artista não apenas esteve à frente do grupo Friends, com quem lançou o ótimo Manifest! (2012), como deu vida ao próprio selo, URU, e ainda esteve diretamente envolvida com os primeiros registros de Blood Orange, com quem manteve um breve romance. Você pode até vê-la com bastante destaque no vídeo produzido para You’re Not Good Enough.

Mesmo com toda essa experiência e vasto repertório acumulado desde o início da década passada, é com a entrega de Showing Up que Urbani se apresenta por completo. Como esperado, trata-se de um novo regresso da artista ao pop dos anos 1980. São canções que apontam para a obra de veteranos do período, como Madonna e Tom Tom Club, porém, preservando a identidade da cantora. Um exercício criativo que invariavelmente tende ao conforto, vide o repertório entregue no EP Polices of Power (2017), em que utiliza de uma abordagem bastante similar, mas que em nenhum momento deixa de seduzir e encantar o ouvinte.

Parte desse resultado vem do fato de que Urbani, mais do que emular o tipo de som explorado há mais de quatro décadas, sempre se mostrou uma pesquisadora voraz sobre a música produzida nos anos de 1980. Da escolha dos timbres, passando pelo tratamento dado à bateria ao uso destacado dos sintetizadores, cada mínimo fragmento do disco parece cuidadosamente pensado pela artista e seus colaboradores em estúdio, entre eles, o produtor Nick Weiss, que já trabalhou com outros aficionados pelo mesmo estilo, além de parceiros ocasionais, como o instrumentista John Carroll Kirby e o sempre requisitado Rostam Batmanglij.

Exemplo mais representativo disso pode ser percebido na ótima Time Keeps Slipping. Enquanto a base da canção conduz o ouvinte em direção ao passado, efeito direto do encontro entre a bateria eletrônica e os sintetizadores, Urbani aproveita para estreitar laços com os membros do Rexy, obscuro projeto da década de 1980. Esse mesmo resgate de elementos fica ainda mais evidente na introdutória faixa-título, música que potencializa as vozes da cantora, prepara o terreno para o restante do trabalho e ainda estabelece na suculência da linha de baixo e uso sempre calculado das guitarras um claro aceno para a obra de Prince.

Embora bem-estruturado, o caráter nostálgico que orienta as canções de Showing Up aos poucos tende a consumir a experiência do ouvinte. Como forma de lidar com esse resultado, Urbani usa de pequenas curvas conceituais que levam o registro para outra direção. Perfeita representação desse resultado fica bastante evidente na dobradinha formada por Guiding Star, parceria com Sasha Desree que se conecta a Isolation, vinda logo em sequência. São pouco mais de sete minutos em que a artista rompe com o pop dos anos 1980 para dialogar com o presente, combinando diferentes elementos de música eletrônica e soul.

Dessa forma, Urbani evita que Showing Up soe como uma obra talvez desgastada, ampliando o próprio campo de atuação sem necessariamente perverter o caráter revivalista do disco. Toda essa articulação resulta em um trabalho marcado pelo descompromisso, leveza e teor nostálgico, mas que em nenhum momento oculta o forte aspecto sentimental dado aos versos. De More Than A Feeling a One Day At A Time, tudo gira em torno das experiências da cantora. É como uma transposição poética e instrumental para dentro de estúdio dos tormentos, romances e vivências acumuladas pela artista nesses últimos dez anos.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.