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Crítica

Sault

: "(Untitled) God"

Ano: 2022

Selo: Forever Living Originals

Gênero: Neo-Soul, Funk, R&B

Para quem gosta de: Ezra Collective e Little Simz

Ouça: God Is Love, Faith e Safe Within Your Hands

7.5
7.5

Sault: “(Untitled) God”

Ano: 2022

Selo: Forever Living Originals

Gênero: Neo-Soul, Funk, R&B

Para quem gosta de: Ezra Collective e Little Simz

Ouça: God Is Love, Faith e Safe Within Your Hands

/ Por: Cleber Facchi 23/12/2022

Último capítulo da série de cinco discos lançados simultaneamente pelos integrantes do Sault no início de novembro, (Untitled) God (2022, Forever Living Originals) concentra o que há de mais característico no som produzido pelo misterioso coletivo britânico. Deliciosamente nostálgico, ainda que atual, o álbum sustenta na temática do amor, base para cada um dos trabalhos revelados pela banda, o principal componente criativo para o fortalecimento da obra. São canções que partem do minucioso processo de criação de Inflo, grande idealizador do projeto, porém, completas por um time seleto de colaboradores.

Passada a introdutória, I Am Free, God Is Love, vinda logo em sequência, sintetiza de forma bastante evidente esse direcionamento colaborativo que orienta o repertório de (Untitled) God. Enquanto os versos naturalmente destacam o lirismo contemplativo e forte caráter religioso do material (“Eu tento preencher / Meus dias com amor / Sabendo que minha paz se alinha / Com minha verdade“), vozes em coro surgem e desaparecem a todo instante, ampliando os limites do trabalho. Soma-se a isso uma fina tapeçaria instrumental, sempre guiada pela percussão, e você tem em mãos o que há de melhor na obra do Sault.

Vem dessa mesma combinação de elementos o estímulo para algumas das principais composições que abastecem o disco. Em Safe Within Your Hands, por exemplo, são os pianos e vozes cuidadosamente encaixadas que capturam a atenção do ouvinte e conduzem o som produzido pela banda para um território mágico. O mesmo volta a se repetir em Faith, música que aponta para o R&B da década de 1980, segue em um misto de canto e rima, e ainda sustenta nos versos um precioso componente de diálogo com o público. “Eu sei que você está ao meu lado / Eu só tenho fé / É verdade / Você é amor, é o paraíso“, canta.

Embora parta de uma abordagem bastante característica dos antigos trabalhos da banda, (Untitled) God destaca o esforço de Inflo e seus parceiros em provar de novas possibilidades e diferentes direções criativas ao longo da obra. Talvez a mudança mais significativa diga respeito ao uso de temas acústicos, estímulo para a delicada Colour Blind. Com um pé na bossa nova, a canção rompe com a grandiosidade do restante do álbum para investir em um material reducionista. O mesmo acontece em Love Will Free Your Mind, música que preserva o jogo de vozes do Sault, porém, utilizando de uma proposta transformada.

Surgem ainda criações como Life We Rent But Love Is Rent Free, música que faz lembrar dos antigos grupos de pop feminino da década de 1960, e Spirit High, composição que potencializa a essência gospel do material e vai de encontro ao mesmo território criativo de Amazing Grace (1972), de Aretha Franklin. É como uma extensão natural de tudo aquilo que o coletivo tem produzido desde os primeiros trabalhos de estúdio, caso de 5 (2019) e 7 (2019), porém, estabelecendo pequenos pontos de conexão com outros exemplares do mesmo pacote de lançamentos, principalmente o material entregue em Earth (2022).

Sequência ao material entregue pelo coletivo em Untitled (Rise) (2020) e Untitled (Black Is) (2020), (Untitled) God, assim como os discos que o antecedem, acaba pecando pelo excesso. Mesmo que boas composições sejam percebidas durante toda a execução do material, o volume de interlúdios e pequenas curvas criativas pelo interior do trabalho tendem a comprometer a experiência do ouvinte. A própria ausência do mesmo caráter político explícito nos lançamentos anteriores prejudica o rendimento do álbum, proposta que reforça a sensação do álbum como uma coletânea de sobras dos antigos registros da banda.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.