Image

Ano: 2020

Selo: Interscope

Gênero: Pop, R&B, Dance

Para quem gosta de: Ariana Grande e Demi Lovato

Ouça: Lose You to Love Me e Vulnerable

7.0
7.0

Selena Gomez: “Rare”

Ano: 2020

Selo: Interscope

Gênero: Pop, R&B, Dance

Para quem gosta de: Ariana Grande e Demi Lovato

Ouça: Lose You to Love Me e Vulnerable

/ Por: Cleber Facchi 16/01/2020

Concebido em um período de forte instabilidade emocional, relacionamentos conturbados e problemas de saúde, Rare (2020, Interscope) talvez seja o trabalho mais sensível de toda a discografia de Selena Gomez. Do momento em que tem início, na autointitulada faixa de abertura (“Você não faz o mesmo por mim, isso não é justo / Eu não tenho tudo / Eu não estou reivindicando / Mas eu sei que sou especial“), até alcançar a colaborativa A Sweeter Place, música de encerramento do álbum (“Coloquei os dois pés no chão e senti o que é real / Como foi / Vivendo fora de cena, em estado selvagem / Aprendendo a respirar“), cada fragmento do disco reflete com naturalidade os conflitos, medos e vivências da artista norte-americana.

Não por acaso, a cantora fez da dobradinha composta por Look at Her Now e Lose You to Love Me, originalmente apresentadas em outubro do último ano, um preparativo para o primeiro grande registro de inéditas desde Revival (2015). De um lado, o minucioso jogo das batidas e vozes que discutem a busca por estabilidade emocional após um relacionamento instável, no outro, pianos e versos melancólicos que encontram na despedida de um amor recente o estímulo necessário para o fortalecimento do eu lírico. Instantes em que Gomez vai do parcial recolhimento a doce celebração, utilizando desse lirismo confessional um elemento de imediato diálogo com o ouvinte.

Exemplo disso está na composição daquela que talvez seja a principal faixa do disco, Vulnerable. “Se eu lhe mostrar todos os meus demônios e mergulhar no fundo do poço / Vamos nos chocar e queimar como antes?“, questiona enquanto prepara o terreno para o fechamento da canção: “Eu gostaria de contar todos os meus segredos, abraçar minha fraqueza / Se a única outra opção for deixar isso de lado / Então eu continuarei vulnerável“, confessa. São pouco mais de três minutos em que a artista perverte o pop tradicional em prol de um resultado propositadamente diminuto, porém, imenso na forma como as emoções tomam conta dos versos. Um misto de dor e libertação, proposta que lembra os momentos de maior entrega sentimental detalhados por Lorde em Melodrama (2017).

Se por um lado a poesia de Rare avança em relação aos antigos registros da cantora, o mesmo não pode ser dito sobre o direcionamento melódico dado ao disco. Sufocada pelo excesso de produtores envolvidos — são quase 30 profissionais —, Selena entrega ao público uma obra conceitualmente desequilibrada, como se cada composição do álbum apontasse para uma direção específica. Instantes em que a cantora vai do pop latino de Ring, canção que parece saída do homônimo debute de Camilla Cabello, à EDM superficial de Let Me Get Me, música que preserva a essência de Dance Again, logo na abertura do trabalho, porém, de forma simplista, quase descartável.

De fato, toda a segunda metade do trabalho parece sofrer do mesmo direcionamento instável. Salve exceções, como People You Know, canção que faz lembrar da estreia de Christine and the Queens, e Cut You Off, uma possível resposta ao ex-namorado, o cantor Justin Bieber, fica evidente a incapacidade de Gomez em igualar a boa forma de músicas como Lose You to Love Me, Vulnerable e todo o fino repertório que marca a abertura do disco. Mesmo a participação de 6LACK, em Crowded Room, e Kid Cudi, na já citada A Sweeter Place, pouco contribui para o crescimento da obra, reforçando o aspecto de colaboração contratual, como uma imposição direta e pouco convincente da gravadora.

Mesmo consumido por pequenos excessos e instantes de evidente desequilíbrio, difícil não pensar em Rare como o princípio de uma nova fase na carreira da cantora. Produto final de um lento processo de amadurecimento que teve início durante a entrega de Bad Liar e Fetish, há dois anos, cada composição do registro mostra o esforço da artista em se reinventar dentro de estúdio. Canções que se revelam ao público de forma quase documental, como um recorte temporário dos sentimentos (Lose You to Love Me), medos (Vulnerable) e relacionamentos (Cut You Off) que bagunçaram a vida de Selena desde a entrega do álbum anterior.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.