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Crítica

Shabaka

: "Perceive Its Beauty, Acknowledge Its Grace"

Ano: 2024

Selo: Impulse!

Gênero: Jazz

Para quem gosta de: Nubya Garcia e Sons of Kemet

Ouça: I’ll Do Whatever You Want e Living

8.0
8.0

Shabaka: “Perceive Its Beauty, Acknowledge Its Grace”

Ano: 2024

Selo: Impulse!

Gênero: Jazz

Para quem gosta de: Nubya Garcia e Sons of Kemet

Ouça: I’ll Do Whatever You Want e Living

/ Por: Cleber Facchi 07/05/2024

Estranho pensar em Perceive Its Beauty, Acknowledge Its Grace (2024, Impulse!) como o primeiro álbum de Shabaka Hutchings em carreira solo. Durante mais de uma década, o saxofonista inglês não apenas esteve envolvido em alguns dos projetos mais importantes do novíssimo jazz britânico, como Sons of Kemet e The Comet Is Coming, como ainda serviu de conexão entre diferentes instrumentistas e projetos locais. Não por acaso, ao dar início a essa nova empreitada criativa, o compositor londrino surge muito bem acompanhado.

Logo de cara, antes mesmo que o clarinete de Hutchings seja soprado, são os pianos de Jason Moran que preparam o terreno para o que aos poucos se revela em End of Innocence. Pinceladas instrumentais que ainda se completam pela percussão de Carlos Niño, a bateria assumida por Nasheet Waits e todo um rico conjunto de elementos que avançam em uma medida própria de tempo, sem pressa, mas que em nenhum momento deixam de orbitar ou diminuem o destaque aplicado sobre os sopros que norteiam o trabalho.

É quase possível visualizar Hutching iluminado no centro de um palco escuro que aos poucos se abre para a chegada de diferentes colaboradores e parceiros criativos vindos dos mais variados campos da música. Em Managing My Breath, What Fear Had Become, por exemplo, enquanto a harpa cristalina de Charles Overton aponta a direção, sopros e inserções atmosféricas se completam pelos versos do poeta e escritor Saul Williams, detalhando os temas contemplativos que delicadamente embalam a experiência do ouvinte.

São composições que vão de encontro ao mesmo território criativo de veteranos do jazz espiritual, como Alice Coltrane e Pharoah Sanders, porém, partindo de um evidente senso de atualização que encurta a duração das faixas e leva o repertório do trabalho para outras direções. Nada que inviabilize a entrega de canções extensas, sempre marcadas pelo aspecto labiríntico dos arranjos. É o caso da meditativa I’ll Do Whatever You Want, música que ainda se completa pela participação do produtorFloating Points e Laraaji.

Nesse sentido, Perceive Its Beauty, Acknowledge Its Grace vai de encontro ao mesmo ambiente explorado por André 3000 no ainda recente New Blue Sun (2023). O próprio artista estadunidense aparece tocando flauta em I’ll Do Whatever You Want. A diferença está na forma como Hutchings equilibra composições de base atmosférica com momentos de maior libertação e faixas minimamente acessíveis. São preciosidades como Living, delicada colaboração com a cantora Eska, e Kiss Me Before I Forget, junto de Lianne La Havas.

Surgem ainda encontros com Moses Sumney,Esperanza Spalding e o rapper Elucid, na inusitada Body to Inhabit, que levam o disco para campos antes inexplorados na obra do instrumentista inglês. Canções que, vez ou outra, parecem desgarradas do restante da obra, tornando o processo de audição do álbum confuso, porém, sempre amarradas pelos sopros de Hutchings. É como um acumulo natural de mais de uma década de carreira, incontáveis parcerias e colaborações, mas que ainda reserva ao público algumas surpresas.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.