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Crítica

Shame

: "Food For Worms"

Ano: 2023

Selo: Dead Oceans

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Fontaines D.C. e Iceage

Ouça: Fingers of Steel e Adderall

7.9
7.9

Shame: “Food For Worms”

Ano: 2023

Selo: Dead Oceans

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Fontaines D.C. e Iceage

Ouça: Fingers of Steel e Adderall

/ Por: Cleber Facchi 07/03/2023

Terceiro e mais recente trabalho de inéditas do Shame, Food For Worms (2023, Dead Oceans) diz a que veio logo nos minutos iniciais. Com Fingers Of Steel como composição de abertura, o grupo formado por Eddie Green, Charlie Forbes, Josh Finerty, Sean Coyle-Smith e Charlie Steen não economiza e parte pra cima do ouvinte em uma sequência de guitarras altamente ruidosas. É como uma transposição para dentro de estúdio das sempre catárticas apresentações ao vivo do quinteto britânico, conceito reforçado no disco anterior, Drunk Tank Pink (2021), mas que alcança melhor resultado nas canções do presente álbum.

Sem tempo de respirar, cada composição abre passagem para a música seguinte. E isso fica bastante evidente com a chegada de Six-Pack, faixa que mais uma vez posiciona as guitarras em primeiro plano, porém, de forma totalmente frenética, dialogando com a letra ensandecida da canção. “Tudo o que você vê / Está livre dentro desta sala“, avisa Steen, vocalista da banda. Pouco menos de quatro minutos em que o grupo não apenas rompe com a essência soturna que há tempos orienta diferentes obras da cena britânica, como se permite provar de novas possibilidade e direções criativas. Instantes em que o quinteto esbarra nas criações de veteranos como The Stone Roses sem necessariamente perder a própria identidade. A própria Yankees, vinda logo em sequência, com suas bases psicodélicas, parece reforçar esse resultado.

Nada que prejudique a construção de faixas ainda íntimas dos antigos trabalhos da banda. É o caso de Alibis. Entre versos semi-declamados que apontam para a obra de contemporâneos como Fontaines D.C. e Dry Cleaning, a canção traz de volta a urgência que apresentou o grupo em Songs of Praise (2018). Um precioso exercício de atualização que resgata, remonta e potencializa o que há de melhor na obra do Shame. O mesmo acontece na música seguinte, a já conhecida Adderall, uma amarga reflexão sobre a dependência de medicamentos prescritos, mas que em nenhum momento perde a leveza do quinteto.

Com a apresentação de Orchid, sexta composição de Food For Worms, o grupo passa a utilizar de uma abordagem exploratória. Inaugurada em meio a arranjos acústicos, a canção rompe com a aceleração explícita nos minutos iniciais, proporcionando ao trabalho um aspecto curioso, porém, totalmente irregular. A própria The Fall of Paul, vinda logo em sequência, parece contribuir ainda mais para esse resultado. São diferentes atravessamentos de informações, guitarras descompensadas e momentos de maior instabilidade, soando uma criação abortada do Black Midi, mas que assume novos contornos em Burning By Design.

Enquanto os versos evidenciam o aspecto sentimental que surge em momentos estratégicos ao longo da obra (“Você queima tão quente para mim / Você vendeu minha vida por mim“), camadas de guitarras transportam o ouvinte para um novo território criativo. São estruturas labirínticas que vão de um canto a outro sem fazer disso o estímulo para um material confuso. É como um preparativo para o que se revela de forma ainda mais interessante com a chegada de Different Person, música que destaca o lirismo existencial que tem sido incorporado e aprimorado pelo quinteto desde o material entregue em Drunk Tank Pink.

Passado esse momento de maior experimentação que amplia os limites da obra, All The People pontua o disco como uma típica criação do Shame. Enquanto as guitarras avançam em uma medida própria de tempo, vozes em coro se conectam aos versos que parecem pensados para as apresentações ao vivo do quinteto. “Todas as pessoas que você vai conhecer / Não jogue tudo fora / Porque você não pode amar a si mesmo“, aconselha Steen. Um misto de conforto e necessário respiro criativo após o intenso cruzamento de informações que embala a experiência do ouvinte desde os acordes iniciais da potente Fingers Of Steel.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.