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Crítica

Bill Callahan

: "Shepherd in a Sheepskin Vest"

Ano: 2019

Selo: Drag City

Gênero: Folk, Alt. Country, Lo-Fi

Para quem gosta de: Wilco e Bonnie 'Prince' Billy

Ouça: Black Dog On The Beach e Watch Me Get Merried

8.6
8.6

“Shepherd in a Sheepskin Vest”, Bill Callahan

Ano: 2019

Selo: Drag City

Gênero: Folk, Alt. Country, Lo-Fi

Para quem gosta de: Wilco e Bonnie 'Prince' Billy

Ouça: Black Dog On The Beach e Watch Me Get Merried

/ Por: Cleber Facchi 24/06/2019

Bem, faz bastante tempo / Por que você não vem?“. A pergunta lançada por Bill Callahan logo nos primeiros minutos de Shepherd’s Welcome, faixa de abertura de Shepherd in a Sheepskin Vest (2019, Drag City), funciona como um delicado convite a se perder pelas paisagens descritiva, personagens e memórias que vem sendo acumuladas pelo cantor e compositor norte-americano desde o doloroso Dream River (2013). Canções que se articulam em pequenas doses, revelando a minúcia do ex-integrante do Smog em produzir narrativas tocantes, mesmo na economia dos arranjos e versos sempre particulares.

Primeiro trabalho de estúdio do músico desde o curioso Have Fun with God (2014), coletânea de versões em dub para o registro lançado um ano antes, o novo álbum conta com 20 músicas e pouco mais de 60 minutos de duração em que Callahan faz de histórias pontuais, mesmo as mais ordinárias, a base para um exercício puramente sensível, capaz de dialogar com todo e qualquer ouvinte. São relacionamentos fracassados, reencontros e instantes de doce desilusão que orientam a experiência do público até o último instante da obra.

Você sabe que eu costumava compartilhar um alfaiate / Com David Bruce Banner / Esse é o Hulk / Casacos de viagem e sacos de viagem / Futuros trapos / E calçado bom para andar rodovias / Mas nunca longe o suficiente“, canta em The Ballad of the Hulk, inusitada composição em que utiliza do gigante esmeralda da Marvel como um componente metafórico para as próprias desilusões. São versos sempre dolorosos, ainda que dotados de fina comicidade, proposta que vem sendo aprimorado por Callahan desde o amadurecer criativo em Sometimes I Wish We Were an Eagle (2009).

A principal diferença entre Shepherd in a Sheepskin Vest e os últimos trabalhos entregues pelo músico norte-americano está na leveza dos versos e riqueza dos temas selecionados pelo artista. São composições de essência bucólica, como Morning Is My Godmother e Watch Me Get Married; versos embriagados pelo doce romantismo, caso de What Comes After Certainty e Angela, além de canções em que Callahan utiliza de símbolos místicos para se aprofundar na construção de versos existencialistas, base para a melancólica Released e When We Let Go.

Tamanha versatilidade naturalmente transporta o ouvinte para o mesmo universo criativo detalhado em Woke on a Whaleheart (2007), primeiro álbum de Callahan em carreira solo. Para além de uma estrutura homogênea, a grande beleza do disco sobrevive na capacidade do músico em transitar por diferentes esferas criativas de forma sempre autoral, sensível. Um lento desvendar de ideias e experiências pessoais que se completa pela fina tapeçaria instrumental que cobre o disco. São reverberações acústicas, ruídos e inserções sempre minuciosas, estrutura que naturalmente comprime todo esse vasto repertório conceitual dentro de um mesmo ambiente criativo.

Feito para ser ouvido sem pressa, até o fechamento ruidoso que embala a derradeira The Beast, Shepherd in a Sheepskin Vest mostra Callahan em sua melhor forma. Na contramão de outros representantes do cancioneiro norte-americano, hoje inclinados ao experimentalismo e uso de fórmulas pouco convencionais, o músico encontra no reducionismo dos elementos a base para um trabalho que parece maior e ainda mais complexo a cada nova audição. Um delicado registro das vivências e experiências pessoais que há tempos povoam a mente do cantor.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.