Image
Crítica

Slowthai

: "Ugly"

Ano: 2023

Selo: Method / Interscope

Gênero: Hip-Hop, Rap, Pós-Punk

Para quem gosta de: Little Simz e JPEGMAFIA

Ouça: Yum, Selfish e Feel Good

7.8
7.8

Slowthai: “Ugly”

Ano: 2023

Selo: Method / Interscope

Gênero: Hip-Hop, Rap, Pós-Punk

Para quem gosta de: Little Simz e JPEGMAFIA

Ouça: Yum, Selfish e Feel Good

/ Por: Cleber Facchi 10/03/2023

Em novembro do último ano, Slowthai foi convidado a produzir uma faixa inédita para a nova campanha da Beats By Dre. O resultado desse processo está na entrega de I Know Nothing, música que preserva a potência das rimas do artista britânico, porém, chama a atenção pelo curioso diálogo do rapper com o pós-punk, efeito direto da interferência criativa de Dan Carey, produtor que já trabalhou em estúdio com nomes importantes como Fontaines D.C.eSquid. Na época talvez não fosse evidente, mas a composição feita sob encomenda era apenas um ensaio para o material apresentado em Ugly (2023, Method / Interscope).

Terceiro e mais recente álbum de estúdio de Slowthai, o registro traz de volta uma série de elementos que tem sido incorporados desde o introdutório Nothing Great About Britain (2019),porém, partindo de um precioso senso de atualização. São composições que destacam a potência das rimas na mesma medida em que possibilitam ao artista de Northampton provar de novas possibilidades e diferentes direções criativas, proposta que vai do uso da voz cantada à valorização dos instrumentos. Um delirante cruzamento de informações que ainda se completa pela coprodução de Kwes Darko, parceiro de longa data do rapper.

Com a claustrofóbica Yum como música de abertura, Slowthai e seus parceiros apresentam parte das regras e temas que serão incorporados ao longo da obra. São batidas e ambientações frenéticas, como se pensadas para reforçar a letra que trata sobre diferentes vícios e funciona como um passeio torto pela mente do próprio artista. “Em um buraco de quetamina, como um molusco na sopa / Eu quero derreter sozinho, mas não vão me deixar em paz“, dispara em meio a sobreposições industriais que vão de encontro ao mesmo território criativo explorado pelo Death Grips no também delirante The Money Store (2012).

Embora marcado pelo direcionamento caótico, Ugly, assim como o registro que o antecede, Tyron (2021), estabelece pequenos respiros criativos. E isso fica bem representado na ensolarada Feel Good. Com produção complementar de Sega Bodega, que já trabalhou com nomes como Shygirl e FKA Twigs, a canção abre passagem para o lado mais acessível do álbum. E ela está longe de ser a única. Em Selfish, por exemplo, mesmo preservando o caráter angustiado dos versos, Slowthai parte em busca de um material que parece pensado para dialogar com uma parcela ainda maior do público, flertando com as pistas.

É como se o rapper seguisse de onde parou no disco anterior, porém, de forma ainda mais interessante e musicalmente bem resolvida. Não por acaso, Slowthai contou com a colaboração de nomes importantes da cena inglesa durante toda a execução do trabalho. Exemplo disso fica bastante evidente na própria faixa-título do disco. São pouco mais de quatro minutos em que o artista se distancia da base econômica de Nothing Great About Britain para contar com os arranjos e vozes de todos os membros do Fontaines D.C. Quem também dá as caras é Taylor Skye, integrante do Jockstrap que atua como produtor em Tourniquet.

O mais interessante talvez seja perceber que mesmo rodeado de novos parceiros criativos, Slowthai em nenhum momento perde o controle da própria obra. Do momento em que tem início, em Yum, passando por músicas como a melancólica Falling, tudo gira em torno das experiências compartilhados pelo artista. Claro que muitos desses temas vêm sendo explorados pelo rapper desde o primeiro trabalho de estúdio. A diferença está na forma como Slowthai utiliza dessa atualizada base instrumental não apenas para ressignificar a construção dos próprios versos, como para potencializar dores, traumas e inquietações.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.