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Crítica

Snail Mail

: "Valentine"

Ano: 2021

Selo: Matador

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Soccer Mommy e Phoebe Bridgers

Ouça: Valentine e Forever (Sailing)

8.3
8.3

Snail Mail: “Valentine”

Ano: 2021

Selo: Matador

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Soccer Mommy e Phoebe Bridgers

Ouça: Valentine e Forever (Sailing)

/ Por: Cleber Facchi 15/11/2021

Valentine (2021, Matador) é uma obra de sentimentos bastante aparentes. Concebido durante um período de forte instabilidade emocional de Lindsey Jordan, o segundo álbum de estúdio de Snail Mail estabelece na completa vulnerabilidade da cantora e compositora norte-americana um estímulo natural para cada uma das dez faixas que abastecem o registro. “Agora eu não posso te odiar / Eu me arruinei para você / Culpe-me se precisar / Mas eu te adoro“, detalha na introdutória faixa-título, música que sintetiza parte da poesia instável, evidente melancolia e completa entrega da artista durante toda a execução do material.

Parte desse resultado vem do próprio processo de criação do trabalho. Passado o período de divulgação do elogiado Lush(2018), do onde vieram músicas como Pristine e Heat Wave, Jordan passou por um período de depressão e isolamento que resultou em uma internação de 45 dias em uma clínica de reabilitação. Vem justamente desse momento de maior instabilidade emocional o estímulo para algumas das principais faixas do disco, como a já conhecida Ben Franklin. “Pós-reabilitação, tenho me sentido tão pequena / Estou com saudades da sua atenção, gostaria de poder ligar“, confessa em meio a arranjos sempre reducionistas.

É como se Jordan, conhecida pelo forte aspecto confessional dos versos, potencializasse ainda mais esse resultado, fazendo de cada composição um delicado exercício de exposição sentimental. São composições que se voltam para dentro, como um mergulho na mente atormentada da artista norte-americana. “Tanta destruição / Olha o que fizemos / Isso foi tão real“, detalha na amarga Forever (Sailing), música em que parte de um relacionamento fracassado para explorar o próprio isolamento e constante sensação de abandono, direcionamento que acaba se refletindo em diversos outros momentos ao longo do trabalho.

Interessante notar que mesmo consumido pelos sentimentos e dores mais profundas de Jordan, Valentine está longe de parecer uma obra sufocante. Do momento em que tem início, na explosão de guitarras e vozes fortes que tomam conta de Valentine, até alcançar a derradeira Mia, composição marcada pelo maior refinamento dos arranjos, melodias e vozes, cada fragmento do disco preserva o domínio melódico e essência pop que parece bastante característica do material apresentado em Lush. São canções que se dividem entre a melancolia dos versos e estruturas que parecem pensadas para envolver o ouvinte.

Não por acaso, Jordan decidiu ampliar os limites da própria obra. Enquanto Lush parecia apontar para o rock dos anos 1990 e 2000, mergulhando em uma solução de guitarras ruidosas e batidas rápidas, Valentine se permite provar de novas possibilidades e direções pouco usuais. São camadas de sintetizadores, arranjos acústicos e canções que utilizam de uma abordagem cada vez mais acessível. E isso fica bastante evidente nas curvas instrumentais de Madonna e no pop nostálgico da já citada Forever (Sailing), música que aponta para a produção dos anos 1980, como uma parcial fuga do restante do álbum.

Nesse sentido, Valentine segue a trilha de Phoebe Bridgers, no ainda recente Punisher (2020), e Soccer Mommy, com Color Theory (2020), em que revela ao público uma obra dotada de identidade própria, porém, essencialmente fluida, se permitindo provar de novas possibilidades e ritmos durante toda a execução do material. De fato, cada composição do disco parece aportar em um território criativo completamente distinto. São canções que encolhem e crescem a todo instante, fazendo do lirismo confessional e melancolia de Jordan um precioso componente de aproximação e amarra entre as faixas.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.