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Crítica

Speedy Ortiz

: "Rabbit Rabbit"

Ano: 2023

Selo: Wax Nine

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Bully e Charly Bliss

Ouça: You S02, Scabs e Ghostwriter

7.5
7.5

Speedy Ortiz: “Rabbit Rabbit”

Ano: 2023

Selo: Wax Nine

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Bully e Charly Bliss

Ouça: You S02, Scabs e Ghostwriter

/ Por: Cleber Facchi 28/09/2023

Mais de uma década depois de ser oficialmente apresentada com o lançamento de Major Arcana (2013), Sadie Dupuis e seus parceiros de banda estão de volta com mais um novo e sempre barulhento trabalho de estúdio do Speedy Ortiz. Em Rabbit Rabbit (2023, Wax Nine), o grupo completo por Andy Molholt, Joey Doubek e Audrey Zee Whitesides segue de onde parou há cinco anos, no bem-sucedido Twerp Verse (2018), para mergulhar em uma combinação de guitarras sempre carregadas de efeitos e batidas enérgicas que potencializam as letras ancoradas em conflitos pessoais, desilusões e tormentos vividos por Dupuis.

Eu não sou como as outras garotas e sou / Hoje é mágico e nada pode impedir meus planos“, canta na introdutória Kim Cattrall, canção em que referencia a atriz de Sex and the City, mas que se aprofunda nas contradições e conflitos mentais de Dupois. São momentos de maior vulnerabilidade emocional, mas que em nenhum momento tendem à melancolia excessiva, indicando o esforço da musicista em sempre seguir em frente. “Estou tentando / Estou tentando“, repete na derradeira Ghostwriter, composição que reforça esse direcionamento criativo, como um exercício da própria cantora em fazer as pazes consigo mesma.

Parte desse resultado vem justamente do período em que o trabalho foi composto, durante o isolamento causado pela Pandemia de Covid-19, quando Dupuis passou a refletir sobre o próprio passado. Nesse processo, a cantora resgatou memórias traumáticas da infância e adolescência, estímulo para a criação de algumas das principais faixas do disco. “Sigo meu caminho pelo caminho da dor“, canta em Cry Cry Cry, composição em que não apenas reforça parte dos temas incorporados ao longo do registro, como estreita laços com o ouvinte, efeito direto do lirismo honesto que se reflete em cada mínimo fragmento da canção.

É como se, pela primeira vez, Dupuis fosse capaz de explorar as próprias angústias, traumas e memórias atormentadas com uma liberdade inexistente mesmo nos próprios trabalhos da artista em carreira solo. São composições que se esquivam de possíveis curvas metafóricas para passar a limpo as principais inquietações da cantora. “Me provocando com comentários desleixados, exaustão de monossílabos / Então não fale, não fale comigo“, grita na já conhecida Scabs, faixa que evidencia a ferocidade da artista, como um acumulo natural de pequenas tensões que ganha ainda mais destaque pela rica base instrumental.

São as mesmas guitarras ruidosas que há mais de uma década orientam as criações do Speedy Ortiz, porém, marcadas pelo uso de pequenos acréscimos e texturas que concedem frescor ao repertório de Rabbit Rabbit. Embora parte desse resultado venha do maior domínio de Dupuis, que assina a produção do trabalho, difícil ignorar a interferência criativa de Sarah Tudzin, com quem a artista divide os créditos. Conhecida pelo trabalho com o Illuminati Hotties, a guitarrista parece incorporar a mesma fluidez explícita em Let Me Do One More (2021), evitando que a poesia angustiadas das canções pese sobre o material.

Ainda assim, Rabbit Rabbit consegue se estender para além do necessário. Salve exceções, como a já citada Ghostwriter, poucos são os destaques na segunda metade do disco. Passada a euforia explícita em músicas como You S02, Plus One e toda a sequência de composições que inauguram o trabalho, o registro mantém o fôlego, porém, esbarra em pequenas repetições temáticas e ideias que parecem melhor incorporadas ao bloco inicial. São pequenos excessos que naturalmente diminuem o impacto em relação ao material, mas em nenhum momento ocultam a força criativa e profunda sensibilidade poética das canções de Dupuis.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.