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Crítica

Steve Lacy

: "Gemini Rights"

Ano: 2022

Selo: RCA

Gênero: R&B, Neo-Soul, Pop

Para quem gosta de: Ravyn Lenae e Omar Apollo

Ouça: Bad Habit, Mercury e Sunshine

7.0
7.0

Steve Lacy: “Gemini Rights”

Ano: 2022

Selo: RCA

Gênero: R&B, Neo-Soul, Pop

Para quem gosta de: Ravyn Lenae e Omar Apollo

Ouça: Bad Habit, Mercury e Sunshine

/ Por: Cleber Facchi 27/07/2022

Longe dos habituais parceiros de banda no The Internet, Steve Lacy decidiu se aventurar de maneira quase que solitária durante a produção do primeiro trabalho em carreira solo, Apollo XXI (2019). Com exceção das vozes femininas que surgem e desaparecem em momentos estratégicos ao longo da obra, tudo gira em torno das experiências sentimentais e estruturas montadas pelo cantor, compositor, produtor e multi-instrumentista. O resultado desse processo está na entrega de um material que tem seus bons momentos, porém, ecoa de forma menor quando próximo de outras criações assinadas pelo próprio artista.

Não por acaso, para a produção do segundo álbum em carreira solo, Lacy decidiu estreitar a relação com um time de novos e antigos colaboradores, ampliando o próprio campo de atuação. E isso fica bastante evidente durante toda a execução de Gemini Rights (2022, RCA). Marcado pela pluralidade de ideias, o trabalho segue de onde o artista parou no último disco como integrante do The Internet, Hive Mind (2018), porém, partindo de uma abordagem conceitualmente diversa, proposta que vai do tratamento dado aos arranjos e harmonias de vozes à colorida mistura de ritmos que passeia por diferentes campos da música.

Uma das primeiras composições do álbum a serem apresentadas ao público, Mercury funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto os versos se aprofundam em conflitos sentimentais vividos pelo artista (“Eu me conheço, meus pecados / Cavei meu poço, então eu caí / Puxei o gatilho, matei nós dois“), musicalmente, Lacy testa os próprios limites dentro de estúdio. Partindo de trechos de Just Memories, de Eddie Kendricks, o compositor vai da bossa nova ao neo-soul em uma inusitada combinação de elementos, como um avanço claro em relação repertório entregue ao público no trabalho anterior.

E ela não é a única. Mais à frente, em Amber, Lacy costura passado e presente em uma composição que vai do soul produzido na década de 1960 ao pop psicodélico de forma deliciosamente particular. Esse mesmo direcionamento lisérgico fica ainda mais evidente em Cody Freestyle, música que se espalha em meio a sintetizadores enevoados, lembrando as criações de Kevin Parker no Tame Impala. A própria Give You the World, canção de encerramento do disco, utiliza de uma abordagem bastante similar, alternando entre momentos de maior delírio criativo e harmonias vozes que evidenciam a completa polidez dos elementos.

Embora marcado pela pluralidade de ritmos e esforço do multi-instrumentista em provar de diferentes direções criativas, Gemini Rights em nenhum momento se distancia da construção de faixas marcadas pelo forte caráter acessível. Exemplo disso acontece em Bad Habit. Escolhida para anunciar a chegada do trabalho, a canção funciona como uma síntese do curioso diálogo de Lacy com a música pop. Esse mesmo resultado fica ainda mais evidente em Sunshine, composição que destaca a participação de Fousheé, parceira de longa data do artista e dona das vozes em diversos outros momentos ao longo do registro.

Completo pela participação do pianista John Carroll Kirby e o baterista Karriem Riggins, Gemini Rights nasce como um espaço aberto às possibilidades. Mesmo que parte expressiva do trabalho pareça ancorada em temas e conceitos bastante característicos de outros registros produzidos pelo músico, como o ainda recente Hypnos (2022), de Ravyn Lenae, tudo se projeta de forma tão bem executada que é difícil não se deixar conduzir pelo fino repertório apresentado pelo artista. Canções que confessam referências e estreitam relações com diferentes colaboradores, porém, preservando a identidade criativa de Lacy.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.