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Críticas

The Internet

: "Hive Mind"

Ano: 2018

Selo: Columbia / Odd Future

Gênero: R&B, Soul, Hip-Hop

Para quem gosta de: Tyler, The Creator e Blood Orange

Ouça: La Di Da e Roll (Burbank Funk)

8.2
8.2

Resenha: “Hive Mind”, The Internet

Ano: 2018

Selo: Columbia / Odd Future

Gênero: R&B, Soul, Hip-Hop

Para quem gosta de: Tyler, The Creator e Blood Orange

Ouça: La Di Da e Roll (Burbank Funk)

/ Por: Cleber Facchi 24/07/2018

Depois de três bem-sucedidos registros de inéditas — Purple Naked Ladies (2011), Feel Good (2013) e Ego Death (2015) —, não seria uma surpresa se os integrantes do The Internet, sempre prolíficos, seguissem em carreira solo, dando fim às atividades da banda. E, tecnicamente, foi isso que aconteceu quando, no início de 2017, Syd e Matt Martians se lançaram na gravação dos autorais Body (2017) e The Drum Chord Theory (2017), dando início à série de projetos paralelos, incluindo obras produzidas por Steve Lacy, vide colaborações com Ravyn Lenae e Kali Uchis, e o recente debute de Patrick Paige II, com Letters of Irrelevance (2018).

Entretanto, contrariando possíveis expectativas, o quinteto não apenas decidiu se reagrupar, como, em poucas semanas, deu início às gravações do quarto álbum de inéditas da carreira, o recém-lançado Hive Mind (2018, Columbia / Odd Future). De essência nostálgica, porém, guiado pelo frescor dos arranjos e fragmentos poéticos, cada elemento do álbum reflete o completo amadurecimento do grupo, cuidado que vai da inaugural Come Together à derradeira Hold On.

De essência veranil — o próprio lançamento do álbum foi programado para o verão no Hemisfério Norte —, Hive Mind encontra na colorida sobreposição de ritmos o principal componente para atrair a atenção do ouvinte. São variações instrumentais que não apenas preservam o misto de funk e R&B que vem sendo incorporado desde os primeiros trabalhos, como dialogam com diferentes campos da música. Exemplo disso está na riqueza melódica de La Di Da, composição que vai da bossa nova ao pop dos anos 1970, resultando em uma criativa colcha de retalhos.

Em Roll (Burbank Funk) um propositado diálogo com as pistas. Enquanto a letra da canção se espalha sem pressa — “Ouça seu coração / O que ele tem a dizer?” —, batidas cíclicas, vozes e sintetizadores se entrelaçam em uma mistura quente, cercando o ouvinte. Difícil não lembrar de Blood Orange, Toro Y Moi e demais artistas próximos ao grupo de Los Angeles. A diferença está no completo detalhismo do trabalho. Sussurros, samples e acordes minuciosos que se revelam a todo instante, como no baixo destacado em Mood, e a voz tratada como instrumento durante toda a execução de Beat Goes On.

Ponto de conexão dentro desse universo de pequenas variáveis, a poesia confessional, sempre delicada, de Syd. Mesmo costurado pela voz e preferências instrumentais de Lacy, Hive Mind é uma obra guiada em essência pelo romantismo agridoce que marca a poesia da cantora. São desilusões amorosas, conflitos internos e personagens idealizadas, preferência que faz do presente disco um clara continuação do material entregue há poucos meses, em Body. Canções como a provocante Come Over e, principalmente, Look What U Started, faixa em que a artista se revela por completo.

Tamanha entrega e sensibilidade faz de Hive Mind uma obra que merece ser revisitada pelo ouvinte. É como se Syd mergulhasse em diferentes cenas e acontecimentos pessoais de forma sempre melancólica, dialogando com diferentes fases na vida de qualquer pessoa. Sentimentos embalados por uma fina tapeçaria instrumental, como uma extensão de tudo aquilo que o quinteto vem produzindo desde o primeiro álbum de estúdio, porém, encorpada por esse curto período de distanciamento e natural crescimento particular entre os integrantes da banda.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.