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Crítica

Angelo de Augustine / Sufjan Stevens

: "A Beginner’s Mind"

Ano: 2021

Selo: Asthmatic Kitty

Gênero: Indie Folk

Para quem gosta de: Fleet Foxes e Elliott Smith

Ouça: Back To Oz e Olympus

7.6
7.6

Sufjan Stevens & Angelo de Augustine: “A Beginner’s Mind”

Ano: 2021

Selo: Asthmatic Kitty

Gênero: Indie Folk

Para quem gosta de: Fleet Foxes e Elliott Smith

Ouça: Back To Oz e Olympus

/ Por: Cleber Facchi 06/10/2021

Parceiros de longa data, Sufjan Stevens e Angelo de Augustine decidiram investir em uma estratégia diferente para a produção do primeiro álbum assinado de forma colaborativa. Isolados em uma cabana no interior do estado de Nova Iorque, os dois instrumentistas buscaram inspiração em clássicos do cinema que viram durante os intervalos das gravações. O resultado desse processo totalmente imersivo está nas canções do reducionista A Beginner’s Mind (2021, Asthmatic Kitty), trabalho que transita de maneira sensível por personagens fantásticos, versos sempre descritivos e momentos de maior vulnerabilidade.

Perfeita representação desse resultado acontece logo nos primeiros minutos da obra, em Reach Out. Faixa de abertura do disco, a canção inspirada no filme Asas do Desejo (1987), de Win Wenders, sintetiza parte das experiências que serão incorporadas por Stevens e Augustine até o fechamento do trabalho. “Eu tenho uma memória / De um tempo e um lugar onde a história resignou / Agora minhas desculpas / Toda luz veio para fulminar minha mente“, detalha a letra que discute arrependimento, saudade e isolamento, estrutura que se completa pelo uso de ambientações acústicas e percussão tratada de forma sempre econômica.

É como se Stevens seguisse de onde parou em Carrie & Lowell (2015), porém, substituindo a base autobiográfica do registro por novas possibilidades criativas e temas calcados em questões existencialistas. Exemplo disso acontece em Olympus. Partindo do filme Fúria de Titãs (1981) e das animações em stop-motion de Ray Harryhausen, o músico estadunidense mergulha em uma espiral de pequenas inquietações. “Quem providenciará minha grande fuga? / Desesperadamente, fui arrancado desse ultraje / Jogando e girando, inquieto, isso me custou a cruz / Estou em repouso ou resignado em meu caos?“, questiona.

Nesse ponto, fica bastante evidente a interferência criativa e domínio de Stevens durante toda a execução da obra. É como se Augustine atuasse permanentemente em segundo plano, como um complemento vocal, sempre discreto. E isso se reflete não apenas na construção dos versos e uso das vozes, como na fina tapeçaria instrumental que cobre toda a superfície do registro. Difícil ouvir Lady Macbeth In Chains, logo na abertura do álbum, e não lembrar da base sintética incorporada pelo compositor de Michigan no ainda recente The Ascension (2020), obra em que amplia a sonoridade apresentada em The Age of Adz (2010).

Mesmo partindo de uma abordagem similar aos últimos lançamentos de Stevens, interessante notar como determinadas composições utilizam de um enquadramento singular. É o caso de Back To Oz. Com letra inspirada pelo filme O Mundo Fantástico de Oz (1985), a canção sustenta na construção dos arranjos e vozes cantaroláveis um precioso componente de transformação criativa. É como uma interpretação ainda mais acessível de tudo aquilo que a dupla estadunidense busca desenvolver ao longo da obra, estrutura que flerta com a música negra dos anos 1970 e faz lembrar as produções recentes de Danger Mouse.

Vem justamente desse direcionamento menos contemplativo a real beleza de A Beginner’s Mind e algumas das composições mais interessantes do trabalho. Instantes em que Stevens se distancia de tudo aquilo que foi apresentado no ainda recente e extenso Convocations (2020), com suas 49 faixas marcadas pelo caráter atmosférico, para resgatar parte da sonoridade e conceitos explorados em algumas de suas principais criações, como o cultuado Illinois (2005) e o já citado The Age of Adz. Uma colorida reciclagem de conceitos, mas que em nenhum momento soa desgastada ou pouco estimulante para o ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.