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Crítica

Swans

: "The Beggar"

Ano: 2023

Selo: Young God / Mute

Gênero: Experimental, Pós-Rock

Para quem gosta de: Godspeed You! Black Emperor

Ouça: Paradise Is Mine e The Beggar Lover (Three)

7.7
7.7

Swans: “The Beggar”

Ano: 2023

Selo: Young God / Mute

Gênero: Experimental, Pós-Rock

Para quem gosta de: Godspeed You! Black Emperor

Ouça: Paradise Is Mine e The Beggar Lover (Three)

/ Por: Cleber Facchi 19/07/2023

O lento dedilhar das cordas logo nos minutos iniciais de The Parasite, composição de abertura em The Beggar (2023, Young God / Mute), funciona como uma boa representação da jornada instrumental que se inicia com o mais recente trabalho de estúdio do grupo nova-iorquino Swans. Em um intervalo de mais de duas horas de duração, marca das recentes criações da banda desde o regresso com My Father Will Guide Me up a Rope to the Sky (2010), no início da década passada, o registro ganha forma e cresce aos poucos, convidando o ouvinte a se perder em um território marcado pelos delírios e a mente torta de Michael Gira.

Sequência ao material entregue no também extenso Leaving Meaning (2019), The Beggar utiliza de uma abordagem parcialmente distinta em relação ao registro que o antecede. Enquanto o álbum apresentado há quatro anos parecia concebido a partir de composições fragmentadas e ideias dissonantes, com o presente disco, Gira e seus parceiros de banda, Kristof Hahn, Christopher Pravdica, Phil Puleo, Larry Mullins e Dana Schechter, se aprofundam na construção de um repertório essencialmente homogêneo. Da escolha dos temas ao tratamento dado aos arranjos, cada canção parece servir de passagem para a música seguinte.

Parte dessa sensação vem da forma como o próprio disco foi concebido. Impossibilitado de excursionar por conta da pandemia de Covid-19, Gira se voltou à produção de um registro caseiro onde passou a se questionar: “existe realmente uma mente?“. O resultado desse processo criativo está na entrega de Is There Really a Mind? (2022), trabalho com tiragem limitada em que apresenta versões acústicas para o material posteriormente finalizado junto dos parceiros de banda em The Beggar. São composições que tratam sobre a morte, diferentes crises existenciais e sentimentos conflitantes que pareciam invadir a mente do artista.

Agora nós deitamos na lama / No mar, bem abaixo / E esperamos onde nos deitamos / Para a luz, para a infiltração“, canta na já conhecida Paradise Is Mine, música que representa de forma bastante expressiva tudo aquilo que gira busca desenvolver liricamente ao longo do trabalho. São criações sujas, por vezes invasivas, porém, sempre hipnóticas e difíceis de serem ignoradas pelo ouvinte, efeito da poesia cíclica que se desenvolve como um mantra. A própria base instrumental, sempre adornada pela sobreposição dos elementos, concede ao disco o mesmo caráter ritualístico que tem sido incorporado desde The Seer (2012).

São justamente essas pequenas similaridades com os antigos trabalhos da banda, principalmente em sua fase mais recente, que acabam diminuindo o impacto em relação ao material apresentado em The Beggar. O próprio direcionamento dado às canções, com movimentos longos e crescentes que culminam em um fechamento catártico, se repete em diversos momentos no decorrer do disco, criando a percepção de uma obra arrastada e cíclica. Falta ao registro a mesma sensação de imprevisibilidade proposta em álbuns como o insano To Be Kind (2014), o que não necessariamente priva o ouvinte de algumas boas surpresas.

Com mais de 40 minutos de duração, praticamente um novo álbum que se abre dentro do trabalho, The Beggar Lover (Three) funciona como uma boa representação da capacidade do grupo em brincar com as possibilidades em estúdio. São incontáveis camadas de guitarras, ruídos, orquestrações e vozes em coro que ajudam a entender a real grandeza e dimensão do som produzido pelo grupo nova-iorquino. É como uma delirante sobreposição de ideias que condensa mais de quatro décadas de carreira e mais uma vez reforça a potência criativa da obra de Gira e seus colaboradores mesmo após tantos anos em atuação.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.