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Crítica

Syd

: "Broken Hearts Club"

Ano: 2022

Selo: Columbia

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Kelela e Ravyn Lenae

Ouça: Missing Out e CYBAH

7.5
7.5

Syd: “Broken Hearts Club”

Ano: 2022

Selo: Columbia

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Kelela e Ravyn Lenae

Ouça: Missing Out e CYBAH

/ Por: Cleber Facchi 20/04/2022

Cinco anos se passaram desde que Syd transformou as próprias desilusões no estímulo para as canções de Fin (2017). Primeiro álbum em carreira solo da também integrante do coletivo The Internet, o trabalho conta agora com o complemento Broken Hearts Club (2022, Columbia), registro que segue de onde a artista parou no disco anterior, porém, partindo de novas inquietações, dores e sentimentos. “Você poderia partir um coração?“, questiona logo nos minutos iniciais da obra, na já conhecida CYBAH, parceria com Lucky Daye em que apresenta parte dos elementos e temáticas que serão incorporadas ao longo do material.

Assim como no trabalho anterior, Syd se concentra na produção de um repertório marcado pelo lirismo confessional e permanente entrega. Canções em que se distancia por completo de possíveis barreiras, estreitando a relação com o ouvinte de forma bastante sensível. “Beije-me como você disse que faria / Bem aqui no banco da frente / Não importa que eles estejam buzinando agora / Espero que todos estejam assistindo“, provoca em Fast Car, música em que escancara os próprios desejos, estrutura que ganha ainda mais destaque no reducionismo dos arranjos e batidas que evocam as criações de veteranos como Prince.

É como um permanente exercício de exposição sentimental, direcionamento que embala a experiência do ouvinte até a música de encerramento do disco, Missing Out. “Eu precisava de amor, querida / E você me deu uma versão / Nem sempre foi perfeito / Mas agora não é nada“, detalha. São momentos de evidente angústia, romances passageiros, rupturas e reconciliações. Instantes em que Syd parece cobrir todos os espectros da vida amorosa, estrutura que invariavelmente tende ao desgaste, como na segunda metade do disco, quando parte expressiva dos temas e narrativas apresentadas pela artista começam a se repetir.

Não por acaso, Syd decidiu estreitar a relação com um time ainda maior de colaboradores, ampliando os limites da obra e buscando por novas possibilidades. Exemplo disso fica bastante evidente em Right Track. Enquanto os versos abrem passagem para a chegada do rapper Smino, batidas e arranjos marcados pelo acabamento latino transportam o disco para um novo território criativo. O mesmo acontece minutos à frente, em Out Loud, música que se completa pela participação de Kehlani, porém, chama a atenção pelo refinamento dado aos vocais e uso de harmonias que parecem apontar para o soul dos anos 1960.

Mesmo quando surge de maneira solitária, evidente é o esforço em provar de novas possibilidades. Perfeita representação desse resultado acontece em BMHWDY. Enquanto os versos refletem o lirismo agridoce que serve de sustento ao disco (“Porque nós pertencemos juntas, juntas, juntas / Você e eu para sempre, para sempre, sempre“), batidas tortas e momentos de maior experimentação mergulham na produção dos anos 1990, lembrando as criações de Björk. Surgem ainda preciosidades como Goodbye My Love e Sweet, canções que estabelecem na economia dos elementos um reforço natural aos versos lançados pela cantora.

Embora bem estruturado e repleto de composições que ampliam os limites criativos de Syd, não há como negar que Broken Hearts Club se revela ao público como uma obra livre de grandes surpresas. Produto final de um longo processo de gestação, o trabalho teve parte expressiva das faixas reveladas pela cantora desde o último ano. Entretanto, uma vez imerso no contexto da obra, mesmo velhas conhecidas ganham novo significado. Canções que alternam entre o conforto e a tentativa da artista em se reinventar dentro de estúdio, dando novo acabamento ao uso dos versos sempre marcados pela força dos sentimentos.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.