Image
Crítica

SZA

: "SOS"

Ano: 2022

Selo: Top Dawg / RCA

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Kehlani e Kali Uchis

Ouça: Kill Bill, Blind e Ghost in The Machine

8.5
8.5

SZA: “SOS”

Ano: 2022

Selo: Top Dawg / RCA

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Kehlani e Kali Uchis

Ouça: Kill Bill, Blind e Ghost in The Machine

/ Por: Cleber Facchi 12/12/2022

SOS (2022, Top Dawg / RCA) é um delicado estudo a solidão. E se a imagem de capa, inspirada em um melancólico registro da Princesa Diana, bem como o título do trabalho não dão conta de traduzir isso, SZA faz questão de reforçar esse direcionamento temático durante toda a execução do material. “Como lidar com a rejeição? Estou lidando com muita rejeição agora. Isso me faz sentir pequena“, confessa logo nos minutos iniciais de Far, uma das diferentes composições que se aprofunda na mente, tormentos e conflitos sentimentais da artista que foi alavancada por conta do sucesso do disco anterior, o delicado Ctrl (2017).

Adiado por conta de uma série de desentendimentos com a própria gravadora e dificuldades da artista em entender como promover o registro, SOS é um trabalho que foi gestado de maneira lenta, porém, se apresenta ao público em sua melhor forma. Embora exageradamente extenso, do momento em que tem início, na autointitulada composição de abertura, difícil não se deixar conduzir pelo delicado exercício emocional proposto pela cantora. São canções ancoradas em memórias de um passado ainda recente, fresco, mas que parecem moldadas de forma a dialogar com as angústias vividas por qualquer ouvinte.

É tão embaraçoso / Todo o amor que procuro vivendo dentro de mim / Eu não posso ver, estou cega“, rima em Blind. Síntese criativa de tudo aquilo que a artista busca desenvolver ao longo da obra, a canção que trata sobre a falta de amor próprio e a busca por validação em relacionamentos fracassados destaca o lirismo honesto e completa vulnerabilidade de SZA, como uma extensão natural do repertório entregue em Ctrl. E ela não é a única. Seja nos momentos de calmaria ou instantes de fúria, cada fragmento do trabalho destaca a capacidade da cantora em traduzir sentimentos tão complexos de forma sempre acessível.

E isso fica bastante evidente em toda a primeira metade do registro. Em um intervalo de poucos minutos, SZA reflete sobre a necessidade em se livrar de um antigo amor (“Eu posso matar meu ex, mas ainda o amo / Prefiro estar na cadeia do que sozinha“), confessa sentimentos (“No quarto, eu estou gritando, mas lá fora, eu fico quieta“) e desaba emocionalmente (“Eu não posso me arrepender de nenhum tempo gasto com você / E ainda me pergunto se você me nota“) enquanto utiliza de uma base reducionista, sempre discreta. Canções que destacam a potência dos versos e consolidam a artista como uma das gigantes do gênero.

Já na metade seguinte do disco, SZA aproveita para estreitar relações com diferentes colaboradores e ampliar o próprio campo de atuação. Exemplo disso acontece na dobradinha composta por Ghost in the Machine e F2F. Enquanto a primeira destaca o inusitado diálogo com a cantora Phoebe Bridgers, na canção seguinte, a artista vai de encontro ao mesmo pop rock revivalista de nomes como Willow Smith e Olivia Rodrigo. Mesmo velhas conhecidas, como Good Days e Shirt, reaparecem nos minutos finais e ganham novo significado quando observadas dentro do trabalho, reforçando a essência melancólica do registro.

Dessa forma, SZA faz de SOS um registro que serve de passagem para um território tão particular e intimista quanto compatível com as dores do ouvinte. São composições que emulam uma sensação de amadurecimento, superação e transformação pessoal, contudo, desabam frente ao peso da memória e lirismo fragilizado que tende a consumir as estruturas do trabalho. É como uma longa jornada emocional que estabelece conexões com outros artistas também sofredores, vide o uso de trechos de Hidden Place, de Björk, em Forgiveless, mas que em nenhum momento ocultam a identidade e entrega da cantora.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.