Ano: 2024
Selo: Independente
Gênero: Neo-Soul, Samba, Rap
Para quem gosta de: Xênia França e Rico Dalasam
Ouça: Rude, Previsível e Asfalto Selvagem
Ano: 2024
Selo: Independente
Gênero: Neo-Soul, Samba, Rap
Para quem gosta de: Xênia França e Rico Dalasam
Ouça: Rude, Previsível e Asfalto Selvagem
A grande beleza da obra de Tássia Reis é que você nunca sabe qual será o próximo movimento da artista. E não importa, afinal, a chance de acerto é sempre grande. Mais recente trabalho de estúdio da cantora e compositora paulistana, Topo da Minha Cabeça (2024, Independente) é um bom exemplo disso. Sequência ao material entregue em Próspera (2019), o disco deixa as rimas e o contato com o rap em segundo plano para destacar de maneira intensa a relação de Reis com o samba e outros elementos da música brasileira.
Inaugurado pela própria canção-título, Topo da Minha Cabeça é um trabalho que se revela aos poucos. São pinceladas instrumentais e rítmicas que se completam pela letra que fala de autoaceitação, direcionamento que volta a se repetir em outros momentos do material. É como se, para além dos triunfos financeiros que marcam o registro anterior, Reis celebrasse conquistas internas, proposta que segue até a música seguinte, Brecha, um samba minimalista que serve de exaltação a ela e outras mulheres negras que conquistaram o próprio espaço. “Mas sou brecha / Porta não fecha / Minha voz é flecha e acertou você”, provoca a artista.
Essas mesmas tensões sociais e raciais ganham ainda mais destaque na posterior Asfalto Selvagem, música que vai do samba ao soul, destaca o lirismo político de Reis e faz lembrar da boa fase de Elza Soares em Do Cóccix até o Pescoço (2002). São diferentes cruzamentos de estilos, ritmos e propostas criativas, tratamento que ganha ainda mais destaque em Nós Vestimos Branco, composição que parte de uma temática religiosa, porém estimula outras reflexões, evidenciando a profundidade do repertório apresentado pela paulistana.
Com a chegada de Tão Crazy, deliciosa parceria com Theodoro Nagô, Reis deixa de lado os temas políticos do restante da obra para investir em uma composição marcada pela delicadeza dos sentimentos. É como um contraponto à densidade que orienta a porção inicial de Topo da Minha Cabeça, leveza que segue até a canção seguinte, Só um Tempo, um misto de rap e neo-soul que ainda se completa pela participação de Criolo, ou mesmo Sol Maior, um samba grooveado que soa como uma música perdida da Banda Black Rio.
Passado esse momento de maior leveza, Previsível, diferente do indicado no próprio título, leva o trabalho de Reis para um território completamente inesperado. Acompanhada de Kiko Dinucci, que resgata parte dos experimentos testados com Juçara Marçal em Delta Estácio Blues (2021), a artista se aventura em meio a texturas e bases eletrônicas. É como um preparativo para o que se revela de forma ainda mais intensa em Rude, parceria com EVEHIVE que, mesmo revelada há dois anos, ganha novo significado ao ser observada como parte do presente registro, destacando a ferocidade das rimas e o discurso sempre afiado da cantora.
Escolhida para o encerramento do disco, Ofício de Cantante é outra velha conhecida de Reis. Assim como a faixa que a antecede, a canção peca pela ausência de novidade, porém garante ao trabalho o fechamento ideal. São pouco mais de quatro minutos em que a cantora se aventura pelo samba, combina elementos de rap com música eletrônica e transita por diferentes estilos de forma sempre imprevisível. Instantes em que a artista paulistana celebra os ritmos brasileiros e, ao mesmo tempo, amplia os limites da própria criação.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.