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Crítica

Teago Oliveira

: "Boa Sorte"

Ano: 2019

Selo: Deck Disc

Gênero: Pop Rock, MPB

Para quem gosta de: Maglore, Tim Bernardes e

Ouça: Corações em Fúria e Tudo Pode Ser

8.0
8.0

Teago Oliveira: “Boa Sorte”

Ano: 2019

Selo: Deck Disc

Gênero: Pop Rock, MPB

Para quem gosta de: Maglore, Tim Bernardes e

Ouça: Corações em Fúria e Tudo Pode Ser

/ Por: Cleber Facchi 01/10/2019

Como vocalista e principal compositor da banda baiana Maglore, Teago Oliveira passou a última década se revezando na produção de músicas guiadas pela força dos sentimentos (Se Você Fosse Minha, Dança Diferente) e instantes de forte inquietação política (Aquela Força, Vamos Pra Rua), estímulo para a produção de obras importantes como III (2015) e Todas As Bandeiras (2017). Um exercício sempre minucioso que utiliza das emoções e experiências particulares compartilhadas pelo próprio artista para dialogar com o ouvinte de forma quase imediata, proposta que alcança novo resultado nas canções de Boa Sorte (2019, Deck Disc).

Primeiro álbum de Oliveira em carreira solo, o trabalho que conta com co-produção de Leonardo Marques (Moons, Transmissor) segue a trilha dos antigos registros do músico baiano, porém, partindo de um direcionamento menos urgente, quase introspectivo. São versos consumidos pela saudade, relacionamentos fracassados, memórias e conflitos intimistas que se revelam ao público em pequenas doses, sem pressa. Canções que costuram passado e presente de forma sensível, ainda que racional, efeito direto do lirismo político que borbulha em momentos específicos da obra.

Não por acaso, Oliveira fez de Corações em Fúria (Meu Querido Belchior), sétima faixa do disco, a canção escolhida para apresentar o registro. De essência versátil, a música flutua em meio a memórias da infância (“Era uma casa, anos 80, dez pessoas / Eu vi a roda girar“) e algumas das principais referências criativas do compositor baiano, como a citação direta a Belchior (“Ano passado ela morreu / Mas esse ano vai brilhar“). Um delicado olhar para o passado, mas que a todo momento regressa ao atual cenário político do Brasil de forma tão provocativa e crítica (“Os tempos já mudaram / E uma guerra de repente pode estourar“), quanto esperançosa (“E tanta gente diferente podendo se amar / E os corações em fúria cruzam as Américas“).

É partindo justamente desse jogo entre tristeza e celebração, medo e acolhimento que Oliveira orienta a formação do disco. Instantes em que o cantor transforma a própria saudade em música, caso de Longe da Bahia (“Ah! Antes eu não sofria / Agora dói até pensamento / Eu já nem sei viver / Tão longe de você, Bahia“), ou reflete sobre o amor, como em Oh, Meu Bem (“Oh, meu bem / Você apareceu na hora certa / Eu tava perdido / No abismo / No meio da multidão“) e Tudo Pode Ser (“E ver nossas mudanças / E o que nos fez crescer / O amor é tão bonito / E também pode doer“), de maneira sempre delicada, íntima do ouvinte.

A mesma pluralidade de elementos se reflete na forma como Oliveira explora a base melódica do disco. Longe das guitarras e temas radiantes que marcam os últimos trabalhos do Maglore, o músico baiano investe na produção de um som contido, deliciosamente acústico, estímulo para a produção de faixas como Azul, Amarelo, Metafísica e Superstição, essa última, íntima do material entregue pelo próprio Leonardo Marques no último álbum em carreira solo, Early Bird (2018). Claro que isso não interfere na composição de músicas grandiosas, caso da crescente Movimento das Horas, com seus arranjos de cordas, vozes e batidas destacadas. Mesmo a inaugural Bora, com seu ritmo ensolarado, segue um caminho oposto em relação ao som entregue no restante da obra.

Obra de instantes, Boa Sorte se divide entre o evidente desejo do artista em provar de novas possibilidades, porém, preservando a essência lírica e parte da identidade consolidada como integrante da Maglore. São pouco menos de 40 minutos em que o músico baiano confessa algumas de suas principais referências criativas, como Gilberto Gil (Últimas Notícias) e Caetano Veloso (Azul Amarelo), brinca com colorida sobreposição de ritmos e estreita a relação com o ouvinte partindo das próprias inquietações. Um misto de incerteza e fino toque de renovação, como se do material acumulado em mais de uma década de carreira com sua principal banda, Oliveira fosse capaz de ir além.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.