Image
Crítica

The Soft Pink Truth

: "Is It Going to Get Any Deeper Than This?"

Ano: 2022

Selo: Thrill Jockey

Gênero: Eletrônica, Deep House

Para quem gosta de: DJ Koze e Matmos

Ouça: Wanna Know e Deeper

7.8
7.8

The Soft Pink Truth: “Is It Going to Get Any Deeper Than This?”

Ano: 2022

Selo: Thrill Jockey

Gênero: Eletrônica, Deep House

Para quem gosta de: DJ Koze e Matmos

Ouça: Wanna Know e Deeper

/ Por: Cleber Facchi 21/11/2022

Não importa a direção percorrida por Drew Daniel, é sempre muito satisfatório mergulhar nas canções do produtor como The Soft Pink Truth. Mais recente criação do norte-americano que também integra o projeto Matmos, Is It Going to Get Any Deeper Than This? (2022, Thrill Jockey) é um bom exemplo disso. Completamente distinto em relação ao material entregue no disco anterior, Shall We Go on Sinning So That Grace May Increase? (2020), o trabalho mais uma vez estreita a relação do artista com as pistas, porém, preserva o caráter provocativo que há mais de duas décadas embala o material produzido por Daniel.

A exemplo de tudo aquilo que The Soft Pink Truth tem desenvolvido desde o introdutório Do You Party? (2003), o trabalho de quase 70 minutos de duração se divide entre canções deliciosamente dançantes e faixas que destacam o aspecto contemplativo de Daniel, conceito reforçado durante a montagem do álbum anterior. A diferença em relação a outros registros assinados pelo artista, como Why Do the Heathen Rage? (2014), em que apresenta releituras para nomes importantes do black metal, está na forma como o produtor simplifica o próprio processo criativo e busca dialogar com uma parcela ainda maior do público.

Escolhida para anunciar a chegada do disco, Wanna Know funciona como uma boa representação do caráter acessível adotado pelo produtor ao longo da obra. Completa pela participação da cantora e compositora Jenn Wasner, do Flock of Dimes e Wye Oak, a composição de quase cinco minutos parece pensada para fazer o ouvinte dançar. Da linha de baixo pulsante, passando pela base de sintetizadores e vozes trabalhadas de forma hipnótica, poucas vezes antes o som produzido por Daniel pareceu tão acessível, proposta que vai de encontro ao mesmo território explorado por nomes como Róisín Murphy.

E ela está longe de ser a única composição marcada pelo mesmo direcionamento criativo. Cercado de colaboradores, como a cantora Angel Deradoorian e M.C. Schmidt, parceiro no Matmos, Daniel investe na construção de um repertório que parece pensado para atrair a atenção do ouvinte durante toda sua execução. Canções como Deeper Than This, que partem de uma abordagem contida, por vezes misteriosa, mas que encanta pelo uso de pequenos acréscimos, batidas e sobreposições instrumentais que apontam para as pistas. Mesmo o cricrilar de um grilo, em La Joie Devant La Mort, convida o público a dançar.

Nos momentos em que se distancia desse resultado, Daniel investe na construção de composições que destacam o lado inventivo do trabalho. É o caso de Moodswing. Em um intervalo de mais de nove minutos, o artista vai do som de taças sendo enchidas com champanhe ao uso de metais, arranjos de cordas e bases atmosféricas que evidenciam o profundo refinamento estético da obra. A própria música de abertura, Deeper, é outra que chama a atenção pelo lento desvendar das informações, mas que em nenhum momento deixa de seduzir, efeito direto do uso calculado das batidas e guitarras marcadas pelo suíngue.

Vem justamente dessa capacidade do artista em transitar por entre estilos de forma sempre equilibrada a real beleza do repertório apresentado em Is It Going to Get Any Deeper Than This. Sempre que tende ao comodismo, mergulhando na construção de composições puramente atmosféricas, Daniel investe na entrega de faixas que rompem com essa lógica. O resultado desse processo está na entrega de um material que concentra o que há de melhor e mais característico na obra do produtor norte-americano. Um misto de euforia e delicadeza que embala a experiência do ouvinte até os minutos finais, em Now That It’s All Over.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.