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Crítica

The Strokes

: "The New Abnormal"

Ano: 2020

Selo: Cult / RCA

Gênero: Pop Rock, Rock, Synthpop

Para quem gosta de: The Killers e Phoenix

Ouça: Bad Decisions e Brooklyn Bridge to Chorus

7.5
7.5

The Strokes: “The New Abnormal”

Ano: 2020

Selo: Cult / RCA

Gênero: Pop Rock, Rock, Synthpop

Para quem gosta de: The Killers e Phoenix

Ouça: Bad Decisions e Brooklyn Bridge to Chorus

/ Por: Cleber Facchi 20/04/2020

Se você ainda espera por um novo Is This It (2001) ou um possível regresso à crueza detalhada em Room on Fire (2003), sinto lhe informar: isso não vai acontecer. Como indicado durante o lançamento de Angles (2011), Julian Casablancas e seus parceiros de banda, os músicos Nick Valensi, Nikolai Fraiture, Albert Hammond Jr. e Fabrizio Moretti, parecem ter encontrado no rock dos anos 1980 a base para cada novo trabalho de estúdio. Um misto de passado e presente, reverência e resgate, conceito reforçado durante a entrega de Comedown Machine (2013), mas que ganha ainda mais destaque com a chegada do sexto e mais recente álbum de inéditas do quinteto nova-iorquino, The New Abnormal (2020, Cult / RCA).

Declaradamente inspirado pela série de mudanças climáticas e incêndios florestais que tomaram conta da cidade de Los Angeles, onde o disco foi gravado, o trabalho que conta com produção de Rick Rubin (Metallica, Adele), utiliza desse direcionamento caótico como estímulo o registro mais coeso doo grupo desde Room on Fire. Canções que partem dessa mesma base temática como estímulo para discutir uma série de conflitos vividos pelos próprios integrantes, vide o recente divórcio entre Casablancas e Juliet Joslin, assistente pessoal da banda com quem esteve casado desde 2005.

Eu canto uma música, pinto uma imagem / Meu bebê se foi, mas eu não sinto falta dela / Como um cisne, não sinto falta de nadar / Todos os meus amigos foram embora e eles não sentem minha falta“, canta em Why Are Sundays So Depressing?, faixa que sintetiza parte do lirismo melancólico que serve de sustento ao disco. São canções sobre abandono, medo e distanciamento, como se o personagem central da obra fosse a todo momento confrontado pelos próprios sentimentos. “Agora que você ouviu a verdade / Tudo o que eu preciso é de um rosto amigável / Eu também odeio esse sentimento“, confessa em Eternal Summer, música em que se divide entre a solidão e a busca incessante por um novo amor.

Entretanto, o que poderia parecer um trabalho exageradamente melancólico, produto das experiências e conflitos vividos por seus integrante, cresce como uma obra marcada por momentos de forte agitação e fino toque de descompromisso. Exemplo disso ecoa com naturalidade logo na abertura do disco, na introdutória The Adults Are Talking. Enquanto os versos da canção refletem o lirismo sofredor de Casablancas, musicalmente a faixa arrasta o ouvinte para as pistas, como uma versão madura do synthrock incorporado durante o lançamento de Angles. Difícil escapar da sequência de guitarras compartilhadas por Hammond Jr. e Valensi, estrutura que lembra a boa fase do grupo no início dos anos 2000.

De fato, do momento em que tem início, até alcançar a derradeira Ode to the Mets, uma das grandes composições do disco, The New Abnormal cresce como um encontro entre cinco amigos dispostos a reproduzir um tipo de som que eles gostam de ouvir sem qualquer pretensão comercial. Não por acaso, esse é o primeiro trabalho da banda que conta com distribuição pelo selo Cult Records, comandado pelo próprio Casablancas. São criações que preservam a essência do quinteto, porém, sutilmente ampliam aquilo que cada integrante tem produzido em carreira solo, vide as incursões de Moretti pelo pós-punk, no paralelo Machinegum, ou Casablancas, no The Voidz.

Uma vez imerso nesse cenário, o quinteto confirma o que parecia bastante claro desde a entrega de Bad Decisions: The New Abnormal é apenas um disco divertido, leve, como uma fuga de possíveis exageros que pareciam arrastar a experiência do ouvinte nos álbuns anteriores. Composições que atravessam as pistas de dança, como no pop referencial de Brooklyn Bridge To Chorus, ou mesmo momentos de doce melancolia, caso de At The Door e Why Are Sundays So Depressing?, mas que em nenhum momento tentam parecer sérios demais. Um disco simples e direto, proposta que talvez cause desconforto aos mais exigentes, mas que estranhamente foi o que tornou a banda conhecida há duas décadas.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.