Disco: “Comedown Machine”, The Strokes

/ Por: Cleber Facchi 21/03/2013

The Strokes
Indie Rock/Synthpop/Rock
http://www.thestrokes.com/

Por: Cleber Facchi

The Strokes

Lá se vão dez longos anos desde que o The Strokes trouxe para o público a última e bem sucedida empreitada musical da banda: Room On Fire (2003). Ainda que os fãs (sempre eles) atestem beleza até mesmo nos momentos desconexos de First Impressions Of Earth (2006) ou na sufocante falta de ordem que orienta Angles (2011), nada do que o grupo encabeçado por Julian Casablancas lançou depois da faixa de encerramento do segundo álbum, I Can’t Win, conseguiu representar um álbum conciso e tão exato quanto os projetos iniciais. Apenas composições avulsas como You Only Live Once ou Taken For A Fool, incapazes de repetir a uniformidade que apresentou a banda com o clássico inegável Is This It (2001). O quinteto parecia cansado, ou disperso, temporariamente incapaz de acertar.

Contra todas as (más) expectativas, não é isso que a banda revela com o lançamento de Comedown Machine (2013, RCA). Quinto registro da carreira do quinteto, o trabalho parece finalmente completar o esboço formatado no disco passado, aproximando o grupo dos sons característicos da década de 1980, sem a excentricidade de outrora. É como se o Synthpop suingado de Machu Picchu perdesse as doses imoderadas de neon, mantendo as rajadas leves de guitarras típicas da década de 1970. Se antes o grupo brincava com o Garage Rock, incorporando elementos diversos que marcaram o trabalho de bandas como Television e Ramones, hoje o Strokes quer ser New Wave.

Comedown Machine é um disco para os nostálgicos. De maneira óbvia (ou você realmente esperava pelo contrário?), não há nada espalhado pelo disco que a banda já não tenha desenvolvido nos trabalhos anteriores. Entretanto, diferente dos exageros e da completa falta de bom senso que pairava sob Angles (hoje confirmado como o pior álbum dos nova-iorquinos), o novo disco mantém firme a uniformidade entre as composições, proposta que o grupo não dava conta desde o encerramento do segundo disco. Até o surgimento de algumas composições mais “esquisitas” como Call It Fate Call It Karma parecem não interferir na linearidade da obra, afinal, cada canção parece encaixada em um ponto exato da obra. Do rock de garagem ao synthpop, o Strokes parece finalmente ter se encontrado – ou quase isso.


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Talvez pela necessidade em agradar os velhos seguidores, faixas inspiradas na sonoridade mais “clássica” do grupo como All The Time inviabilizam a construção de uma obra melhor resolvida. A banda não precisa mais disso. Contrário do que os mais exaltados insistem em atacar, é justamente em One Way Trigger (que não tem nada de Technobrega), Happy Ending e outras faixas mais pegajosas do álbum que mora o verdadeiro acerto do “novo” Strokes. A banda finalmente parece ter encontrado a versão final do som alicerçado no disco de 2011, engenho que movimenta grande parte do novo álbum – principalmente depois da passagem da enérgica 50 50. Claro que nem tudo é coeso no recente disco, ainda mais quando Casablancas tenta imitar Bono Vox na aterrorizante Chances, a pior canção que o U2 nunca lançou e facilmente o maior erro de toda a produção dos nova-iorquinos.

Assim como em Room On Fire a banda acertava ao substituir a aceleração do primeiro álbum por composições melódicas e grudentas de forma controlada (vide a arquitetura sublime de 12:51), com o novo disco não é diferente. De cara, Tap Out mistura um pouco das guitarras tradicionais com o ritmo levemente funkeado da atual fase, utilizando da voz sintetizada do vocalista como um acréscimo natural para a canção. Outro claro destaque são as composições mais lentas que passeiam pela obra. Tanto 80’s Comedown Machine como Slow Animals e Call It Fate Call It Karma parecem mergulhar o quinteto em um novo universo, um meio termo entre o disco solo de Casablancas (Phrazes for the Young, de 2009), com a suavidade do Little Joy e a estreia solo de Albert Hammond, Jr. em Yours to Keep (2006).

Se por um lado as transformações parecem bem resolvidas, falta ao disco a mesma assertividade que possibilitou ao Yeah Yeah Yeahs uma transição segura para os sintetizadores em It’s Blitz (2009). Como no álbum anterior, os conselhos e a mão firme de um bom produtor se fazem necessários. Alguém capaz de posicionar o quinteto em um mesmo percurso conceitual, eliminando as instabilidades que pouco a pouco se revelam pela obra. Quase como um Guilty Pleasure, Comedown Machine serve para cantar (Happy Ending), abre espaço para danças descompassadas (One Way Trigger) e até bota o espectador para se questionar (Call It Fate Call It Karma), mas não espere nada além disso.


Comedown Machine (2013, RCA)


Nota: 6.8
Para quem gosta de: Julian Casablancas, Little Joy e Alber Hammond Jr.
Ouça: One Way Trigger, Happy Ending e Tap Out

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.