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Crítica

The Weather Station

: "How Is It That I Should Look at the Stars "

Ano: 2022

Selo: Fat Possum

Gênero: Indie, Pop de Câmara, Folk

Para quem gosta de: Cassandra Jenkins e The National

Ouça: Endless Time e To Talk About

7.7
7.7

The Weather Station: “How Is It That I Should Look at the Stars”

Ano: 2022

Selo: Fat Possum

Gênero: Indie, Pop de Câmara, Folk

Para quem gosta de: Cassandra Jenkins e The National

Ouça: Endless Time e To Talk About

/ Por: Cleber Facchi 16/03/2022

Parte expressiva do acerto de Tamara Lindeman em Ignorance(2021), grande obra da artista como The Weather Station, diz respeito ao esforço da cantora e compositora canadense em manter todas as composições do disco dentro de uma mesma atmosfera. Do momento em que tem início, em Robber, passando pela construção de faixas como Parking Lot e Tried to Tell You, cada fragmento do álbum parece servir de passagem para a canção seguinte, direcionamento que se reflete não apenas no tratamento dado aos arranjos, como na escolha dos temas e versos cuidadosamente trabalhados ao longo do registro.

Prazeroso perceber em How Is It That I Should Look at the Stars (2022, Fat Possum), mais recente trabalho de estúdio da artista de Toronto, um esforço claro em preservar esse mesmo direcionamento estético. Concebido a partir de faixas que acabaram de fora do material produzido para o disco anterior, o álbum utiliza do mesmo comprometimento na construção dos arranjos e temáticas, porém, partindo de uma abordagem parcialmente distinta. São canções que se distanciam do uso de elementos percussivos e momentos de maior ruptura de forma a potencializar os sentimentos e versos detalhados por Lindeman.

E isso fica bem representado logo nos minutos iniciais da obra, em Marsh. Enquanto os versos se aprofundam em experiências traumáticas e relacionamentos consumidos pelo período de isolamento social (“Online, falamos / Ou diga que falamos, silenciamos e bloqueamos / Eu deveria desligar essa coisa / Eu sei que deveria desistir“), camadas de pianos e inserções discretas de metais apontam a direção seguida pela artista. É como se Lindeman e o co-produtor Jean Martin despissem o trabalho de possíveis excessos, tratamento que embala a experiência do ouvinte até a faixa de encerramento, Loving You.

Se por um lado essa estrutura reducionista contribui para o forte caráter emocional da obra, por outro, exige uma audição atenta e maior comprometimento por parte do ouvinte. Diferente do material entregue no registro anterior, onde a bateria de Kieran Adams parecia apontar a direção seguida por Lindeman, em How Is It That I Should Look at the Stars, a imersão é essencial para o maior proveito das canções. Mais do que garantir respostas e composições imediatas, cada elemento do álbum se revela ao público em uma medida própria de tempo, contribuindo para o atmosfera misteriosa que serve de sustento ao disco.

Sobrevive justamente nesse caráter imersivo do registro a passagem para algumas das melhores composições já reveladas por Lindeman. É o caso de To Talk About. Completa pelas vozes de Martin, a canção ganha forma e cresce em meio a inserções sublimes e sopros que transportam o som produzido pela cantora para um novo território criativo. O mesmo refinamento acaba se refletindo em Endless Time. Escolhida para anunciar a chagada do disco, a faixa parte de uma base econômica de pianos, porém, encanta pela potência das vozes e momentos de maior vulnerabilidade expressos pela artista canadense.

Com base nessa estrutura, Lindeman apresenta ao público um trabalho talvez incapaz de replicar a mesma sensação de ineditismo e impacto causado durante a produção de Ignorance, porém, marcado pela mesma entrega sentimental. São canções que partem dos momentos de maior melancolia vividos pela artista canadense, estrutura que se completa pela costura minuciosa de costura minuciosa de Jean Martin e arranjos de Christine Bougie, Karen Ng, Ben Whiteley, Ryan Driver e Tania Gill. Um espaço onde dor, saudade, arrependimento e libertação se confundem a todo instante, estreitando a relação com o ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.