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Ano: 2021

Selo: Fat Possum

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Sharon Van Etten e The War On Drugs

Ouça: Tried to Tell You e Robber

8.8
8.8

The Weather Station: “Ignorance”

Ano: 2021

Selo: Fat Possum

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Sharon Van Etten e The War On Drugs

Ouça: Tried to Tell You e Robber

/ Por: Cleber Facchi 09/02/2021

Ignorance (2021, Fat Possum) é um registro diferente de tudo aquilo que Tamara Lindeman tem produzido desde o início da carreira. Distante da atmosfera empoeirada que marca os primeiros trabalhos de estúdio como The Weather Station, caso de All of It Was Mine (2011) e Loyalty (2015), a cantora e compositora canadense se concentra na entrega de um material essencialmente grandioso, ainda que sóbrio. São incontáveis camadas instrumentais, arranjos de cordas, sopros e ambientações minimalistas que correm em paralelo aos versos detalhados pela artista. Um universo de pequenos detalhes que, longe de garantir possíveis respostas, serve de sustento à poesia enigmática que pouco a pouco toma conta do disco.

E é exatamente isso que a cantora busca desenvolver logo nos primeiros minutos da obra, em Robber. Livre dos temas acústicos que embalam o homônimo disco que o antecede, o registro chama a atenção pelo uso calculado da bateria, guitarras e arranjos minuciosos, como se Lindeman apresentasse as regras do trabalho. São frações instrumentais que se conectam diretamente aos versos, sempre centrados em questões que vão do domínio branco em relação às terras indígenas do Canadá e o peso do capitalismo. “Eu nunca acreditei no ladrão / Quando eu era jovem, aprendi a fazer amor com o ladrão / Para dançar com o outro / Para arrancar de sua mão o toque de um amante“, canta em um misto de angústia e libertação.

É partindo dessa mesma estrutura que Lindeman orienta a experiência do ouvinte durante toda a execução do trabalho. Canções que partem sempre de uma mesma base criativa, porém, crescem na delicada sobreposição dos elementos, camadas de sintetizadores e vozes complementares, como se diferentes obras fossem condensadas dentro de cada faixa. E isso pode ser percebido com naturalidade em músicas como Loss, Parking Lot e todo o bloco inicial do registro. Um verdadeiro turbilhão instrumental e poético, como se tudo fosse pensado de forma a alavancar as emoções e sentimentos mais conflitantes que invadem a mente da multi-instrumentista canadense.

Entretanto, longe de sufocar pelos próprios sentimentos e inquietações, Lindeman utiliza do fino repertório de Ignorance como forma de dialogar com o ouvinte. Exemplo disso pode ser percebido em Tried to Tell You. Uma das primeiras composições do disco a serem apresentadas ao público, a canção encontra na relação instável entre dois personagens a base para a construção dos versos. “Você estava com tanto medo de tentar se separar / A chuva sem fim que você considerava seu coração / Com sangue em suas mãos dentro do rio / Você tenta negar, você nunca sentiu a maré“, canta em meio a orquestrações sublimes que surgem e desaparecem durante toda a execução da faixa, aumentando a forte carga emocional explícita na letra.

São histórias de amor, desilusões e conflitos intimistas que potencializam tudo aquilo que Lindeman tem produzido desde os primeiros trabalhos de estúdio. E isso se reflete com maior naturalidade na segunda metade do disco. Composições como Separated (“No meu desejo estúpido de curar / Cada fenda, cada corte que sinto“), Trust (“Apague as luzes e feche as cortinas / Este é o fim do amor“) e Heart (“Eu não tenho coragem de esconder meu amor / Quando eu sei que é o melhor de mim“) em que a artista canadense se despe por completo de possíveis analogias para confessar os próprios sentimentos. Instantes de forte vulnerabilidade, proposta que faz lembrar de Sharon Van Etten, no ainda recente Remind Me Tomorrow (2019), e os conterrâneos do Destroyer, em Kaputt (2011), obra que adota o mesmo refinamento estético.

Parte expressiva desse comprometimento no processo de formação da obra vem da escolha de Lindeman em assumir a produção do álbum junto do parceiro Marcus Paquin (The National, Stars). O resultado desse processo está na entrega de um registro que transita de forma homogênea por diferentes temas e sonoridades, como uma interpretação ampliada de tudo aquilo que The Weather Station tem produzido desde a estreia com All of It Was Mine. Canções que se abrem para a chegada de nomes importantes da cena canadense, caso de Owen Pallett (Wear), evocam as criações de veteranos como Bruce Springsteen (Tried to Tell You) e Fleetwood Mac (Parking Lot), porém, a todo momento regressam ao território particular da artista canadense.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.