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Crítica

Tinashe

: "BB/ANGEL"

Ano: 2023

Selo: Nice Life

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Kehlani e Victoria Monét

Ouça: Talk To Me Nice e Gravity

7.8
7.8

Tinashe: “BB/ANGEL”

Ano: 2023

Selo: Nice Life

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Kehlani e Victoria Monét

Ouça: Talk To Me Nice e Gravity

/ Por: Cleber Facchi 20/09/2023

Sexto e mais recente álbum de estúdio apresentado por Tinashe, BB/ANGEL (2023, Nice Life) funciona como uma síntese de tudo aquilo que a cantora e compositora norte-americana tem incorporado desde o início da década passada, quando mergulhou de cabeça nos trabalhos em carreira solo. Logo de cara, em Treason, faixa que conta com produção assinada por Machinedrum, a artista traz de volta o mesmo direcionamento explorado nas primeiras mixtapes, detalhando sentimentos em cima de uma base pouco usual para o R&B, porém, consistente com de tudo aquilo que define as composições da norte-americana.

Com a chegada de Talk To Me Nice, minutos à frente, Tinashe traz de volta as mesmas batidas reducionistas de obras como Joyride (2018) e 333 (2021), porém, é na base atmosférica, íntima do repertório de Aquarius (2014), que se esconde a real beleza da composição. “Você tem opções, eu tenho opções / Quero você, mas não preciso de você“, confessa em meio a ambientações sutis e camadas de sintetizadores que destacam a produção assinada em conjunto por Nosaj Thing e Scoop DeVille. Instantes em que a artista aponta de forma decidida para o próprio passado sem necessariamente se deixar consumir pela nostalgia barata.

Esse mesmo direcionamento volta a se repetir na música seguinte, Needs. Enquanto os versos destacam o aspecto provocativo da artista (“Meu corpo é um bufê / Coma minha buceta, garoto, não me ligue“), batidas densas e sintetizadores cuidadosamente encaixados trazem de volta o mesmo tipo de som incorporado no envolvente Song For You (2019). A diferença está na forma como Tinashe brinca com a manipulação da própria voz, levando o disco para outra direção. É como se a artista assumisse o espaço antes destinado a um possível convidado, criando pequenos diálogos que reforçam a tensão sexual detalhada nos versos.

Pena que nem todas as canções partilham do mesmo refinamento e minucioso processo de criação de Tinashe. Em Uh Huh, quarta faixa do álbum, tanto a construção dos versos como a base arrastada da composição custam a avançar, consumindo a experiência do ouvinte. Nada que Gravity, vinda logo em sequência, não dê conta de solucionar. Com um pé no UK Garage, a música leva o trabalho para outra direção, estreitando ainda mais a relação da artista com a produção eletrônica, direcionamento reforçado durante o lançamento do disco anterior, mas que alcança melhor resultado dentro do presente registro.

Livre da urgência que marca a canção que a antecede, None of My Business desacelera, porém, parece livre da abordagem modorrenta de Uh Huh. Parte desse resultado vem da forma como a artista encontra em relacionamentos conflituosos e na busca por um amor torto o estímulo para a construção dos versos. “Tudo o que você faz é me contar mentiras / Eu nem posso mais ficar surpresa / Veneno escorrendo da sua língua / Me envenene com todas as coisas que você fez“, canta Tinashe em um delicado exercício onde aceita a própria condição, estrutura reforçada pelo encaixe preciso das batidas e uso de bases soturnas.

Passado esse momento de maior contenção, como um novo regresso ao mesmo território criativo explorado em Aquarius, Tightrope garante novo fôlego e ao mesmo tempo pontua o material com excelência. Assim como em Gravity, o destaque acaba ficando por conta das batidas que mais uma vez transportam o som da artista para as pistas, efeito direto da produção de Machinedrum. São pouco mais de três minutos em que Tinashe passeia em meio a memórias de um antigo amor, estreitando laços emocionais com o ouvinte na mesma medida em que concede ao disco um fino toque de renovação e busca por novas possibilidades.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.