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Crítica

Torres

: "Thirstier"

Ano: 2021

Selo: Merge

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Lucy Dacus e Phoebe Bridgers

Ouça: Thirstier e Don't Go Puttin Wishes in My Head

7.8
7.8

Torres: “Thirstier”

Ano: 2021

Selo: Merge

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Lucy Dacus e Phoebe Bridgers

Ouça: Thirstier e Don't Go Puttin Wishes in My Head

/ Por: Cleber Facchi 06/08/2021

Mackenzie Scott está sedenta por amor. Inspirada pelo período em que passou isolada, vivendo apenas com a namorada, a artista plástica Jenna Gribbon, a multi-instrumentista da Flórida transporta para dentro de estúdio parte dessas vivências, conflitos e sentimentos em cada uma das canções que recheiam o confessional Thirstier (2021, Merge Records). Concebido em um intervalo de poucos meses, durante o período de isolamento social causado pela pandemia de Covid-19, o sucessor do ainda recente Silver Tongue (2020), lançado no último ano, mostra uma artista completamente mudada, transformação que se reflete não apenas na forte carga emocional que orienta a construção dos versos, como no tratamento dado aos arranjos e temas instrumentais cada vez mais complexos.

Exemplo disso acontece logo na sequência de abertura do disco, com Are You Sleepwalking? e a já conhecida Don’t Go Puttin Wishes in My Head. São pouco menos de sete minutos em que a musicista parte de uma combinação ruidosa de guitarras e batidas eletrônicas, lembrando as canções apresentadas nos antecessores Sprinter (2015) e Three Futures (2017), para mergulhar em uma base de sintetizadores e melodias cantaroláveis que vão de encontro ao mesmo universo criativo proposto por nomes como The War On Drugs e The Killers. Um intenso conjunto de ideias e experiências instrumentais potencializadas pelo forte aspecto sentimental dos versos que ora discutem conflitos típicos de um casal, ora se aprofundam em momentos de maior vulnerabilidade e doce melancolia.

Com base nessa estrutura, Scott apresenta parte dos conceitos que serão explorados ao longo do disco, porém, longe de qualquer traço de conforto ou momentos de maior previsibilidade. E isso fica bastante evidente logo na canção seguinte, Constant Tomorrowland. Da construção das batidas ao uso de temas acústicos e orquestrações sutis, é como se a cantora pervertesse tudo aquilo que foi apresentado nos primeiros registros autorais. A própria Drive, entregue minutos à frente, parte de uma combinação de elementos que parecem bastante característicos do material apresentado em Sprinter, como as melodias etéreas e sintetizadores destacados, mas que acabam mergulhando em um território completamente novo, reforçando o acabamento eletrônico que envolve a obra.

Esse mesmo entalhe sintético ganha ainda mais destaque na composição seguinte, Big Leap, música que parte de uma base acústica, porém, cresce em meio a ambientações cuidadosamente trabalhadas por Scott. É como um interlúdio para o material que chega logo em sequência, com a turbulenta Hug From A Dinosaur. Evidente ponto de ruptura da obra, a faixa marcada pelo peso das guitarras abre passagem para a segunda metade do trabalho, onde afloram os sentimentos da cantora. “Baby, mantenha-me em suas fantasias / Baby, mantenha suas mãos em cima de mim … Quanto mais eu bebo de você, mais sede eu fico”, confessa na também intensa faixa-título.

Mesmo quando volta a provar de temas eletrônicos, como em Kiss the Corners, Torres parece seguir uma trilha completamente distinta em relação ao material entregue no bloco inicial do disco. São batidas rápidas e sintetizadores cada vez mais ruidosos, sujos, sempre alinhados aos versos compartilhados pela cantora. “Tudo vai embora / Você permanece“, confessa. O mesmo tratamento, porém, partindo de outra abordagem criativa, acaba se refletindo em Hand in the Air. Perfeita combinação entre a potência das guitarras e ambientações sintéticas que correm ao fundo da canção, a música regida pela forte carga emocional e inseguranças que acompanham a artista durante toda a execução da obra. “De longe sua mão no ar / Pode significar adeus / Pode significar olá“, canta.

Com Keep the Devil Out como faixa de encerramento do disco, Scott entrega ao público uma canção que sintetiza parte dos elementos incorporadas a longo do trabalho. Enquanto os versos refletem o completo amadurecimento da artista – “Todo mundo quer ir para o céu / Mas ninguém quer morrer para chegar lá” –, camadas de sintetizadores se espalham em meio a batidas rápidas e guitarras carregadas de efeito, tumultuando a experiência do ouvinte. É como uma interpretação ainda mais complexa de tudo aquilo que Torres apresenta em Hug From A Dinosaur e na própria faixa-título, porém, em uma abordagem ainda mais enérgica, proposta que pontua o registro com euforia e fino toque de imprevisibilidade, deixando o caminho aberto para os futuros lançamentos da cantora.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.