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Crítica

Ty Segall

: "Hello, Hi"

Ano: 2022

Selo: Drag City

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Thee Oh Sees e White Fence

Ouça: Hello, Hi e Saturday Pt. 2

7.0
7.0

Ty Segall: “Hello, Hi”

Ano: 2022

Selo: Drag City

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Thee Oh Sees e White Fence

Ouça: Hello, Hi e Saturday Pt. 2

/ Por: Cleber Facchi 16/08/2022

É notável a capacidade que Ty Segall tem de transitar por entre estilos mesmo preservando a própria identidade criativa. Pouco menos de um ano após a entrega do ruidoso Harmonizer (2021), trabalho em que vai da psicodelia ao que há de mais barulhento na produção dos anos 1970, o cantor, compositor e produtor norte-americano utiliza de uma abordagem parcialmente distinta em Hello, Hi (2022, Drag City). São composições que destacam o uso de elementos acústicos e melodias empoeiradas, estímulo para a formação de um repertório deliciosamente econômico, mas não menos expressivo e sempre instigante.

Bom dia, senhorita / Nós podemos ficar aqui dentro / O mundo é onde nós dois deitamos / Nos travesseiros estamos bem“, detalha logo nos minutos iniciais do álbum, em Good Morning, música que sintetiza parte dos elementos incorporados ao longo do registros e um convite a se perder pelo novo território criativo apresentado pelo multi-instrumentista. Do uso destacado dos violões às harmonias de vozes que evocam as criações de veteranos como The Beatles e T. Rex, difícil não se deixar conduzir pelo fino repertório que embala a experiência do ouvinte até a composição de encerramento do trabalho, a ótima Distraction.

Partindo dessa base contida, o músico entrega ao público algumas de suas criações mais preciosas. É o caso de Looking At You, canção em que reflete sobre o início e o fim de um relacionamento de forma bastante sensível, íntima do ouvinte. “Eu estou olhando para você pela última vez / Segure minha mão / Não há apenas nada“, canta. Mesmo quando se aventura em versões para a obra de outros artistas, como em Don’t Lie, um dos grandes sucessos do grupo californiano The Mantles, Segall preserva o mesmo direcionamento estético e completa sutileza que vai do uso das vozes ao tratamento dado aos arranjos.

Entretanto, muito se engana quem pensa que Segall se distanciou por completo dos temas ruidosos que marcam os registros anteriores. Exemplo disso fica bastante evidente na própria faixa-título do disco. Inaugurada em meio a harmonias de vozes que reforçam a atmosfera doce de Hello, Hi, a composição rapidamente se transforma em um turbulento exercício criativo que concentra o que há de melhor na obra do artista. É como se o guitarrista fosse de encontro ao mesmo território desbravado em trabalhos como Twins (2012), Slaughterhouse (2012) de todo o vasto repertório apresentado no início da década passada.

O mais curioso talvez seja perceber os momentos em que Segall costura passado e presente da própria obra dentro do registro. É o caso de Saturday Pt. 2. Dividida entre momentos de calmaria e caos, a faixa não apenas combina os dois extremos que caracterizam as criações do músico estadunidense, como ainda abre passagem para um dos momentos mais inventivos do trabalho. São camadas de guitarras, batidas e metais, como um aceno para a boa fase de David Bowie em Young American (1975). A própria Looking At You, revelada minutos antes, utiliza de uma combinação similar, evidenciando a riqueza dos elementos.

Claro que quando observamos Hello, Hi em proximidade a outros registros de Segall, como Freedom’s Goblin (2018), em que utiliza de uma abordagem bastante similar, prevalece a sensação de uma obra menor, por vezes inacabada. De fato, parte expressiva do trabalho se sustenta na formação de um repertório exageradamente contido e simplista, feito reforçado em músicas como Saturday Pt. 1, Blue e Cement. São composições que mais parecem sobras de estúdio do que peças importantes, proposta que não necessariamente prejudica a experiência do ouvinte, porém, tende a diminuir o impacto do disco.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.