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Crítica

Uiu Lopes

: "Por Fora, Por Dentro"

Ano: 2023

Selo: Matraca Records / YB Music

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: YMA e César Lacerda

Ouça: Horizonte e Dançando no Escuro

7.5
7.5

Uiu Lopes: “Por Fora, Por Dentro”

Ano: 2023

Selo: Matraca Records / YB Music

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: YMA e César Lacerda

Ouça: Horizonte e Dançando no Escuro

/ Por: Cleber Facchi 27/07/2023

Trabalho de estreia do cantor e compositor baiano Uiu Lopes, Por Fora, Por Dentro (2023, Matraca Records / YB Music) levou mais de um ano até ser integralmente apresentado ao público. Desde o anúncio do disco, em maio de 2022, o artista radicado em São Paulo tem revelado fragmentos do registro em uma medida de tempo bastante particular. Primeiro, veio Lulu. Em seguida, Desejos De Um Leão, parceria com Walfredo em Busca da Simbiose. Por fim, Horizonte, já em meados de setembro. E é justamente nessa ausência de pressa adotada pelo músico que se esconde a chave para desvendar os segredos por trás do álbum de oito faixas.

Como indicado logo nos minutos iniciais do registro, em Vento Vem Tu, Lopes investe na construção de um repertório que se revela ao público em pequenas doses. São movimentos sempre calculados que destacam a produção de Fernando Rischbieter e o trabalho da banda formada pelos músicos Thiago Leal (baixo), Pedro Lacerda (bateria), Leon Sánchez (teclados e sintetizadores) e Pedro Bienemann (guitarra). Um lento, porém, permanente desvendar de informações, diferentes ritmos e sensações, proposta que talvez custe a capturar a atenção do ouvinte mais apressado, mas que em nenhum momento perde seu refinamento.

Dentro desse espaço onde cada faixa assenta lentamente, Lopes aproveita para confessar sentimentos e revistar diferentes traumas vividos durante o período pandêmico. “Vento que traz lembranças / Vem tu dizer o que vai ser de nós“, canta na já citada Vento Vem Tu, apontando a direção para o restante do material. É como uma contrastante combinação de elementos. Instantes em que o músico baiano vai de momentos de maior melancolia ao encaixe de versos deliciosamente radiantes, como na poesia romântica que ecoa em Lulu. “Toda vez que eu vejo ela / Tudo fica lindo o infinito é pouco pra nós dois“, confessa.

Esse mesmo cuidado e riqueza de detalhes explícito na construção dos versos se revela de forma ainda mais interessante no tratamento dado aos arranjos. Com um pé na década de 1980, Por Fora, Por Dentro soa como um registro sintonizado em alguma estação de rádio durante a madrugada, reverberando ecos de Lulu Santos, Djavan e outros artistas que lançaram alguns de seus principais trabalhos durante o período. Composições que, vez ou outra, perdem seu charme por conta da similaridade excessiva do material fonte, porém, executadas de forma tão minuciosa por Lopes e seus parceiros que é difícil não se deixar seduzir.

Exemplo disso fica bem representado no que talvez seja uma das principais composições do disco, a já conhecida Horizonte. Da linha de baixo suculenta ao brilho neon das guitarras, da bateria que evoca Phil Collins ao som empoeirado dos sintetizadores, cada fragmento da canção evidencia uma ampla gama de elementos e referências incorporadas por Lopes ao longo do trabalho. Um misto de passado e presente que acaba se refletindo até os minutos finais do registro, no som altamente nostálgico que toma conta de Dançando no Escuro, música que ganha ainda mais destaque pela participação de YMA, coautora da faixa.

Referencial e autêntico na mesma proporção, Por Fora, Por Dentro cumpre todas as funções de um típico registro de estreia. Enquanto parte das canções confessam algumas das principais influências do artista baiano, outras ajudam a estabelecer a identidade criativa do músico e ainda estreitam laços com diferentes colaboradores em estúdio. É como se Lopes partisse de um espaço conceitualmente pré-estabelecido, emulando estruturas, timbres e outros componentes que conduzem o ouvinte em direção ao passado, mas que sustenta nos versos e temáticas um precioso diálogo com o presente e natural passagem para o futuro.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.