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Crítica

Vegyn

: "Only Diamonds Cut Diamonds"

Ano: 2019

Selo: PLZ Make It Ruins

Gênero: Hip-Hop, Eletrônica, Glitch

Para quem gosta de: Flying Lotus e Aphex Twin

Ouça: That Ain't No Dang Cat! e It's Nice To Be Alive

7.8
7.8

Vegyn: “Only Diamonds Cut Diamonds”

Ano: 2019

Selo: PLZ Make It Ruins

Gênero: Hip-Hop, Eletrônica, Glitch

Para quem gosta de: Flying Lotus e Aphex Twin

Ouça: That Ain't No Dang Cat! e It's Nice To Be Alive

/ Por: Cleber Facchi 25/11/2019

Como produtor, Joe Thornalley nunca pareceu seguir uma trilha regular. São frações eletrônicas, ruídos e instantes de breve experimentação que sintetizam a completa versatilidade do artista inglês. E isso se reflete na forma como Thornalley tem contribuído em uma seleção de obras recentes, caso de Astroworld (2018), elogiado álbum do rapper Travis Scott, além, claro, de músicas assinadas por nomes como A$AP Mob e Aminé. Nada que se compare ao material entregue por Frank Ocean, com quem colaborou nas gravações de Blonde (2016), e, principalmente, na finalização de faixas como Provider e Lens.

É partindo justamente dessa criativa colagem de ideias que o produtor britânico entrega ao público o mais novo registro de inéditas como Vegyn. Intitulado Only Diamonds Cut Diamonds (2019, PLZ Make It Ruins), o trabalho de 16 faixas e pouco mais de 40 minutos de duração não apenas concentra tudo aquilo que o artista tem produzido desde a estreia com All Bad Things Have Ended – Your Lunch Included (2014) e Janhui (2015), como revela ao público um conjunto de novas possibilidades, riqueza que se reflete até a faixa de encerramento do disco, a urbana Blue Verb Reprise.

A principal diferença em relação ao presente álbum e toda a sequência de músicas apresentadas pelo artista nos últimos anos está na forma como Thornalley parece brincar com a composição dos detalhes. Na contramão do minimalismo anêmico explícito nas canções de Text While Driving If You Want to Meet God! (2019), extenso registro de 71 faixas em que revela ao público uma série de composições abortadas em estúdio, o produtor inglês se concentra em revelar ao público uma sequência de músicas marcadas pelo maior refinamento melódico, uso instrumental da voz e pequenas rupturas conceituais.

Exemplo disso pode ser percebido logo nos primeiros minutos do disco, na colorida That Ain’t No Dang Cat. Claramente influenciada pela obra de Aphex Twin, a canção vai de clássicos como Girl/Boy Song à trilha sonora de animações recentes do Cartoon Network. São pouco menos de dois minutos em que o produtor inglês utiliza de vozes sampleadas, sintetizadores e assobios de forma sempre sorridente. O mesmo cuidado acaba se refletindo mais à frente, na também detalhista It’s Nice To Be Alive, composição marcada pelo uso pontual de arranjos de cordas e melodias futurísticas que parecem saídas de algum disco do Boards of Canada.

São ideias que se espalham sem ordem aparente, como se Thornalley, assim como no material apresentado em Text While Driving If You Want to Meet God!, jogasse com as possibilidades dentro de estúdio. E isso se reflete com naturalidade na faixa mais extensa do disco, Cowboy ALLSTAR. Em um intervalo de quatro minutos, o produtor britânico vai do uso de abstrações eletrônicas à inserção de melodias acústicas que parecem saídas de alguma clássico da música country. Uma criativa colagem, ritmos e fórmulas instrumentais, conceito também evidente no minimalismo eletrônico de Debold e nas orquestrações de Retro OTW, canção que parece deixada de fora de algum disco de Frank Ocean.

Para além de uma obra centrada nas experiências particulares de Thornalley, Only Diamonds Cut Diamonds ainda se abre para a interferência criativa de diferentes colaboradores. São nomes como JPEGMAFIA, parceiro na já conhecida Nauseous/Devilish, e o rapper francês Retro X, com quem divide a curtinha You Owe Me. Nada que se compare ao bem sucedido encontro com Madlib, na atmosférica Fire Like Tyndall. De essência jazzística, lembrando a boa fase de Flying Lotus, a canção parece transportar o som produzido por Vegyn para um novo território criativo, como um indicativo claro do que pode vir a ser explorado nos futuros trabalhos do artista.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.