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Crítica

Vince Staples

: "Vince Staples"

Ano: 2021

Selo: Motown / Blacksmith

Gênero: Hip-Hop, Rap

Para quem gosta de: Earl Sweatshirt e Isaiah Rashad

Ouça: Take Me Home e Law of Averages

7.5
7.5

Vince Staples: “Vince Staples”

Ano: 2021

Selo: Motown / Blacksmith

Gênero: Hip-Hop, Rap

Para quem gosta de: Earl Sweatshirt e Isaiah Rashad

Ouça: Take Me Home e Law of Averages

/ Por: Cleber Facchi 22/07/2021

Desde que despertou a atenção do público, com o lançamento da mixatpe Stolen Youth (2013), registro produzido em parceria com Mac Miller, Vince Staples tem feito de cada novo trabalho de estúdio um verdadeiro espetáculo. E isso fica bastante evidente na dobradinha composta por Summertime ’06 (2015) e Big Fish Theory (2017), dois primeiros álbuns do rapper californiano e uma criativa combinação de elementos que vai da construção das rimas, essencialmente biográficas, ao tratamento dado às batidas. Um espaço sempre aberto às possibilidades, ponto de partida para o diálogo do artista com diferentes colaboradores vindos dos mais variados campos da música, vide composições assinadas em parceria com Clams Casino, SOPHIE, Flume e Damon Albarn.

Curioso perceber no quarto e mais recente álbum de Staples uma completa fuga desse resultado. Autointitulado, o sucessor de FM! (2018), de onde vieram músicas como Fun! e Feels Like Summer, parte do lirismo pessoal que embala as criações do rapper, conceito reforçado pela fotografia em close que estampa a imagem de capa, porém, estabelece na construção das batidas e uso restrito de convidados a passagem para um novo território criativo. São composições marcadas pela economia dos elementos, proposta reforçada não apenas pela escolha do artista em trabalhar com um único produtor em estúdio, Kenny Beats (FKA Twigs, Rico Nasty), mas na curta duração do material que se espalha em meio a fragmentos de vozes e componentes tratados de forma sempre reducionista.

Eu sinto que estou tentando contar a mesma história. Conforme você avança na vida, seu ponto de vista muda. Esta é outra visão de mim mesmo que eu talvez não tivesse tido antes“, comentou Staples no texto de lançamento do trabalho. E isso fica bastante evidente logo nos primeiros minutos da obra, na introdutória Are You with That?, música em que costura passado e presente enquanto reflete sobre a própria carreira. “Preencher esses vazios ou preencher meu banco … Mamãe me contou sobre vocês, cobras / Mantenha minha merda longe da segurança / Você sabe que nunca pode estar muito seguro“, rima. Instantes em que o rapper celebra pequenas conquistas, porém, com sobriedade, conceito que se repete em outras músicas ao longo do disco, como Taking Trips e The Shining.

Nesse sentido, o homônimo registro funciona muito mais como um documento do atual período vivido por Staples do que necessariamente uma obra capaz de dialogar com o ouvinte. Mesmo os interlúdios espalhados ao longo do trabalho parecem pensados para se relacionar com experiências pessoais e memórias afetivas do próprio artista. É o caso de The Apple & the Tree, música concebida a partir de uma mensagem de áudio em que a mãe do rapper discute o suposto envolvimento do marido em uma tentativa de assassinato. Vem justamente desse forte caráter intimista a escolha de Beats em produzir um álbum marcado pelo minimalismo dos elementos. São micro-ambientações, batidas tortas e momentos de maior fragilidade que se conectam de maneira sutil aos versos.

E isso faz do trabalho uma obra inacessível? De forma alguma. Entre rimas marcadas pelo forte caráter pessoal, Staples revela composições que estreitam a relação com ouvinte de forma sempre sensível. É o caso de Law Of Averages, música em que discute amadurecimento pessoal, dinheiro e amizade enquanto batidas inexatas e vozes carregadas de efeitos se revelam ao público em uma medida própria de tempo, lembrando as colaborações entre Bon Iver e BJ Burton. O mesmo direcionamento acessível acaba se refletindo minutos à frente, na delicada Take Me Home. Única parceria do disco, a música completa pela colaboração Fousheé ganha forma em meio vozes sobrepostas e melodias enevoadas que parecem apontar para o mesmo território criativo de SZA e  Jorja Smith.

Menos urgente quando próximo de outros registros apresentados por Staples ao longo da última década, o álbum homônimo mostra a tentativa do artista em se reinventar criativamente, mesmo preservando aspectos importantes do próprio repertório. Da escolha dos temas, centrados em conflitos pessoais, medos e aprendizados, passando pela produção característica de Kenny Beats, com quem havia trabalhado no disco anterior, tudo parece funcionar dentro de uma estrutura revisionista, por vezes confortável. Uma decisão criativa talvez pouco impactante quando comparada ao permanente processo de ruptura estética incorporado pelo rapper, porém, consistente com o tratamento dado às rimas e conceitos que tem sido explorados desde o início da carreira.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.