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Crítica

Kehlani

: "While We Wait"

Ano: 2019

Selo: Atlantic / TSNMI

Gênero: R&B, Soul, Pop

Para quem gosta de: Tinashe e Jhené Aiko

Ouça: Nights Like This, Nunya e Butterfly

7.5
7.5

“While We Wait”, Kehlani

Ano: 2019

Selo: Atlantic / TSNMI

Gênero: R&B, Soul, Pop

Para quem gosta de: Tinashe e Jhené Aiko

Ouça: Nights Like This, Nunya e Butterfly

/ Por: Cleber Facchi 28/02/2019

Lentamente, Kehlani vem se transformando em uma das personagens mais interessantes do novo R&B norte-americano. Em um permanente processo de amadurecimento criativo, a cantora e compositora norte-americana tem feito de cada novo registro autoral a passagem para um universo marcado pela força dos sentimentos, transformação evidente no fino repertório que embala o primeiro álbum de estúdio da artista, SweetSexySavage (2017), mas que assume nova formatação no recém-lançado While We Wait (2019, Atlantic / TSNMI).

Gravida do primeiro filho, a artista de Oakland, Califórnia, decidiu transportar para dentro de estúdio parte dessa transformação vivida nos últimos meses. Não por acaso, o trabalho conta com nove composições — uma para cada mês de gestação —, e vem marcado pelo simbólico título de “Enquanto Nós Esperamos“. Entretanto, para além das experiências detalhadas no universo particular da própria cantora, difícil passear pelas canções do álbum e não se identificar logo em uma primeira audição, efeito direto da profunda sensibilidade que embala a construção dos versos.

Sei que estamos com medo de nós, o que isso pode se tornar / Não há mais volta, não mais / Estamos na mesma cama, não podemos ficar acordados / Vamos encher esse espaço com a gente“, canta na delicada Butterfly, um R&B minimalista em que reflete sobre o princípio de um novo amor. Versos delicadamente encaixados, precisos, como um regresso ao mesmo universo criativo que vem sendo detalhado desde a mixtape You Should Be Here (2015).

São canções de amor, medo e pequenas desilusões que se entrelaçam em uma medida própria de tempo, como se Kehlani desacelerasse em relação ao material entregue em SweetSexySavage. Batidas e versos que parecem pensados para confortar o ouvinte, direcionamento que se reflete mesmo na poesia amarga de Nunya, em que discute o ciúme pós-relacionamento. “Porque você faz um show / Porque você não quer que o mundo saiba / Que você perdeu uma garota que conseguiu por conta própria“, canta sem necessariamente perder a leveza que embala o restante da obra.

Curioso notar que mesmo coeso musicalmente, While We Wait teve cada composição do disco assumida por um produtor diferente. Do concorrido Hit-Boy, na já citada Nunya, passando por Sir Nolan e DannyBoyStyles, em Nights Like This, bem-sucedido encontro com o rapper Ty Dolla Sign, faixa após faixa, Kehlani se concentra em estreitar a relação com diferentes nomes do R&B norte-americano. O resultado está na produção de uma obra diversa, porém, íntima da base econômica detalhada logo nos primeiros minutos do disco.

Rito de passagem para uma nova fase na carreira de Kehlani, While We Wait reflete não apenas a transformação pessoal da artista, como antecipa uma série de conceitos que devem ser explorados em um novo álbum de estúdio. Instantes de profundo reinvento (Footsteps) e composições que parecem resgatar a essência dos últimos trabalhos da cantora (Nights Like This), porém, dentro de uma estrutura parcialmente reformulada, refinamento evidente até o último segundo da presente obra.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.