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Crítica

Whitney

: "Spark"

Ano: 2022

Selo: Secretly Canadian

Gênero: Indie Pop, Soul, Indie Folk

Para quem gosta de: Real Estate e Andy Shauf

Ouça: Blue, County Lines e Real Love

7.0
7.0

Whitney: “Spark”

Ano: 2022

Selo: Secretly Canadian

Gênero: Indie Pop, Soul, Indie Folk

Para quem gosta de: Real Estate e Andy Shauf

Ouça: Blue, County Lines e Real Love

/ Por: Cleber Facchi 27/09/2022

Com Nothing Remains como composição de abertura, fica bastante evidente a direção criativa escolhida pelos integrantes do Whitney no confessional Spark (2022, Secretly Canadian). “Os problemas nunca vão embora / Mas eles mudam“, cresce a letra da canção. Terceiro e mais recente trabalho de inéditas do projeto encabeçado por Max Kakacek e Julien Ehrlich, o registro encontra na temática da separação um importante componente de fortalecimento para os versos. São momentos de maior vulnerabilidade, dor e entrega emocional, proposta que tinge com evidente melancolia a experiência do ouvinte ao longo da obra.

Sequência ao material entregue em Candid (2020), obra de versões que contou com releituras para nomes como Kelela e David Byrne, Spark talvez seja o registro mais honesto e consequentemente doloroso já produzido pela dupla norte-americana. São composições que começam pequenas, por vezes livres do refinamento estético que marca o introdutório Light Upon the Lake (2016), mas que encontram no forte aspecto emocional dado aos versos um precioso componente de diálogo com o ouvinte, proposta que acaba se refletindo até a derradeira County Lines. “O céu sabe / Você e eu / Apenas nos separamos“, canta.

Entretanto, diferente de outros exemplares do gênero, em essência consumidos pela forte carga emocional, Spark encanta pela completa sutileza de Kakacek e Ehrlich. Exemplo disso fica bastante evidente em Blue. Enquanto os versos tratam sobre a inevitabilidade da partida (“Uma visão entre sonhos bons e ruins / A paranóia está me segurando, é uma coisa estranha“), harmonias de vozes e arranjos deliciosamente nostálgicos parecem pensados para envolver e confortar o ouvinte. Instantes em que os dois artista vão de encontro ao soul da década de 1970 de forma bastante sensível, evocando as melodias de Stevie Wonder.

Esse mesmo cuidado no processo de composição acaba se refletindo durante toda a execução da obra. Assim como no último álbum de inéditas da banda, Forever Turned Around (2019), Spark estabelece no reducionismo dos arranjos um estímulo para o desenvolvimento das canções. São ambientações etéreas e orquestrações sutis que abrem passagem para a construção dos versos, sempre intimistas e sensíveis. “Eu conheço essa vida / Só traz más notícias / Mas eu vou tentar / Para segurar você“, canta. É como uma interpretação reducionista, mas não menos interessante, de tudo aquilo que caracteriza o som do Whitney.

Embora íntimo dos registros que o antecedem, Spark talvez seja o trabalho que mais aproxima a dupla estadunidense de um universo de novas possibilidades. Escolhida para anunciar a chegada do álbum, Real Love funciona como uma boa representação desse resultado. Do uso destacado dos sintetizadores ao tratamento dado às batidas, tudo soa como uma fuga das antigas criações da banda. A própria escolha de Brad Cook (Snail Mail, Waxahatchee) e John Congleton (Angel Olsen, Modest Mouse) como produtores do disco funciona como uma boa representação dessa mudança de direção por parte de Kakacek e Ehrlich.

Mesmo com todas essas transformações e evidente busca da dupla por novas possibilidades e direções criativas, não há como ignorar o forte aspecto monotemático de Spark. Salve exceções, como na poesia existencial de Terminal, prevalece o lirismo romântico e pequenas desilusões sentimentais durante toda a execução do trabalho. De fato, muitas das composições partilham de temas e experiências emocionais que tem sido exploradas desde o introdutório Light Upon the Lake. Dessa forma, o que tinha tudo para ser um importante ponto de transição na carreira da banda, resulta em mais uma obra marcada pelo conforto.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.