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Crítica

YMA / Jadsa

: "Zelena"

Ano: 2023

Selo: Matraca Records / YB Music

Gênero: Art Rock

Para quem gosta de: Giovani Cidreira e Pelados

Ouça: Meredith Monk e Mete Dance

7.8
7.8

YMA & Jadsa: “Zelena”

Ano: 2023

Selo: Matraca Records / YB Music

Gênero: Art Rock

Para quem gosta de: Giovani Cidreira e Pelados

Ouça: Meredith Monk e Mete Dance

/ Por: Cleber Facchi 08/06/2023

Zelena (2023, Matraca Records / YB Music) é um trabalho essencialmente curto e que se resolve em um intervalo poucos minutos, porém, condensa décadas de informações, ritmos e referências estéticas de forma bastante aprofundada. Produto da parceira entre a cantora e compositora paulistana YMA com a multiartista baiana Jadsa, o registro de apenas seis faixas atravessa o pop dos anos 1980 para jogar com as palavras e sustentar na fluidez dos instrumentos um espaço conceitual aberto à experimentação. São menos de vinte minutos em que o ouvinte é arremessado de um canto a outro a cada movimento da dupla.

Entretanto, antes que essa delirante combinação de elementos ganhe forma, Noite Estonteante prepara o terreno de maneira eficiente. Inaugurada em meio a ambientações etéreas, ruídos e arranjos sempre calculados, a canção de abertura aos poucos se engrandece pela fina tapeçaria percussiva e vocais que parecem pensados para hipnotizar o ouvinte. “Me arranha a dança, me arranha / Me arranha a dança, me arranha“, repete o coro de vozes. É como um lento desvendar de informações, estrutura que não apenas apresenta parte das regras incorporadas em Zelena, como abre passagem para a pulsante Mete Dance.

Enquanto batidas e guitarras meticulosas apontam para a obra de veteranos como Prince e David Bowie, Jadsa sustenta no encaixe certeiro das palavras o mesmo dinamismo explícito no primeiro trabalho em carreira solo, Olho de Vidro (2021). Pouco mais de quatro minutos em que o ouvinte é convidado a se perder em um cenário marcado pelo atravessamento de ideias, mas que em nenhum momento perde o caráter dançante. Um campo aberto às possibilidades, estrutura que se completa pela bateria versátil de Pedro Lacerda e guitarras de Fernando Catatau, parceiro em outros momentos ao longo do material.

Uma vez apresentados e organizados todos esses componentes em estúdio, a dupla, sempre em parceria com o produtor Fernando Rischbieter (Lau e Eu, César Lacerda), se permite brincar com a corrupção dos elementos. Exemplo disso fica evidente no que talvez seja a principal canção do registro, Meredith Monk. Com título inspirado pela artista norte-americana conhecida por seus trabalhos multidisciplinares, a faixa soa como uma expansão natural do pop torto explorado por YMA em Par de Olhos (2019). São camadas de sintetizadores, batidas e guitarras sujas que parecem jogar com os sentidos e interpretação do ouvinte.

Passado esse momento de maior euforia, a dupla desacelera com a chegada de Amantes. Talvez contida quando próxima do restante da obra, correndo o risco de passar despercebida em uma primeira audição, a faixa sustenta nos versos seu principal componente criativo. Marcada pelo jogo de palavras, a canção nasce como uma ode às guitarras, porém, utiliza do lirismo lascivo e duplo sentido para atrair e capturar a atenção do ouvinte. “Fico pensando nela / Fico tocando nelaFazendo carinho na minha guitarra / E ela fazendo carinho em mim“, canta em meio a arranjos cíclicos que se conectam diretamente aos versos.

Com a releitura de O Olho do Lago como canção de encerramento, YMA e Jadsa não apenas reforçam o curioso tratamento dado aos versos, como voltam a confessar algumas das principais inspirações para o desenvolvimento do trabalho. Originalmente lançada por Tom Zé como parte do álbum Com Defeito de Fabricação (1998), a composição, precedida de um interlúdio, potencializa tudo aquilo que a dupla busca desenvolver desde Noite Estonteante. São cruzamentos de vozes e costuras rítmicas que combinam diferentes propostas criativas em favor de um repertório que parece pertencer somente às duas artistas.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.