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Crítica

Yo La Tengo

: "This Stupid World"

Ano: 2023

Selo: Matador

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Built To Spill e Sonic Youth

Ouça: Fallout, Sinatra Avenue Drive e Aselestine

8.6
8.6

Yo La Tengo: “This Stupid World”

Ano: 2023

Selo: Matador

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Built To Spill e Sonic Youth

Ouça: Fallout, Sinatra Avenue Drive e Aselestine

/ Por: Cleber Facchi 15/02/2023

Mesmo perto de completar quatro décadas de carreira, o Yo La Tengo segue como um dos projetos mais influentes e musicalmente relevantes da cena norte-americana. E isso fica bastante evidente com a chegada de This Stupid World (2023, Matador). Sequência ao material entregue em There’s A Riot Going On (2018) e os experimentos testados durante o pandêmico We Have Amnesia Sometimes (2020), o trabalho de nove faixas destaca o que há de melhor no som produzido pelo grupo de Hoboken, Nova Jersey. São canções que reforçam o uso ruidoso e potência das guitarras, porém, entrecortadas pela contrastante leveza dos vocais.

Escolhida como composição de abertura do trabalho, Sinatra Avenue Drive sintetiza de forma eficiente tudo aquilo que o trio formado por Ira Kaplan, Georgia Hubley e James McNew busca desenvolver ao longo da obra. Inaugurada em meio a camadas de guitarras que apontam para registros como Painful (1993) e Electr-O-Pura (1995), a música aos poucos se completa pela sutileza das vozes e versos que destacam o aspecto contemplativo do material. “Vejo momentos que desejei, recuperei e perdi de novo“, cresce a letra da canção, como um mantra que ainda abre passagem para a criação seguinte, a já conhecida Fallout.

Originalmente lançada em novembro do último ano, a canção ganha novo significado quando observada como parte do presente álbum. Enquanto as guitarras confessam o fascínio de Kaplan pela produção de veteranos como Neu! e Can, base para grande parte do registro, harmonias de vozes trazem de volta o aspecto litorâneo e leveza de trabalhos como And Then Nothing Turned Itself Inside-Out (2000) e Summer Sun (2003). Um misto de resgate e permanente senso de atualização da própria obra, estrutura que volta a se repetir com a potente Tonight’s Episode, um krautrock deliciosamente hipnótico, típico do Yo La Tengo.

Passado esse ruidoso momento de maior agitação que marca os minutos iniciais do registro, Aselestine transporta o som produzido pela banda para um novo território. Regida em essência pela sutileza dos arranjos e vozes de Hubley, a faixa destaca o lado atmosférico do grupo norte-americano. “A câmera se move / A trilha do riso ri / Aplausos / Eu choro por nós“, detalha em um respiro leve que se completa por Until It Happens e Apology Letter, vindas logo em sequência. São camadas de guitarras e batidas sempre calculadas, como um ponto de equilíbrio entre os dois extremos que orientam a formação do trabalho.

Com a chegada de Brain Capers, o grupo continua a investir no uso de ambientações sutis, porém, aos poucos desemboca em uma corredeira de distorções, batidas e efeitos que evidenciam o que há de mais turbulento no repertório da banda. É como um preparativo para o que se revela de forma totalmente ruidosa na própria faixa-título do disco. Com pouco mais de sete minutos de duração, a canção se ergue como um bloco quase intransponível de guitarras. Instantes em que o trio de Hoboken se permite provar do mesmo som granulado que marca a recente fase do Low, vide Double Negative (2018) e Hey What (2021).

Vem justamente desse caráter exploratório, base para o repertório apresentado no antecessor We Have Amnesia Sometimes, o estímulo para o material entregue na derradeira Miles Away. Também extensa, a faixa ganha forma e cresce em uma medida própria de tempo. São ambientações acinzentadas e batidas eletrônicas que se completam pela voz etérea de Hubley. Um lento desvendar de informações que traz de volta uma série de elementos incorporados ao longo do registro, porém, de forma pouco usual e sempre remodelada, indicativo do continuo esforço do grupo estadunidense em testar os limites da própria obra.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.